RUMO À EXTINÇÃO?
Jornalista profissional é uma criatura que vem se tornando uma peça rara no campo visual – brasileiro, que é o campo que conheço. Tá, a crise tem grande responsabilidade nisso, mas é cômodo demais ficar só nesse argumento. Há outras forças responsáveis pela merda em que nos metemos.
Antigamente, ter um blog soava pejorativo. Hoje a coisa proliferou-se, invertendo o lado pejorativo. Chegamos ao ponto da independência. Assim como na música, em que os artistas já não precisam de gravadoras, o jornalismo já não se prende a um veículo nos moldes clássicos.
Só que essa liberdade toda escancarou a porteira de tal maneira que permitiu aos não jornalistas também ganharem chão. Resultado: a qualidade e o profissionalismo acabaram pisoteados pelos benefícios do on-line. Agora qualquer panacão vira jornalista, ainda mais num período em que todos acham que sabem e conhecem de tudo, em que se cospe verdades furadas em busca de curtidas, compartilhamentos, e de extravasar os recalques.
Com esse revés na maneira como as pessoas se comunicam, perdeu-se uma considerável parcela de público leitor – e aqui faz sentido falar de crise. Isso porque muitas pessoas se deparam com aquela questão: pra que vou pagar pra saber sobre tal assunto se posso encontrá-lo em um sem-número de sites, de graça?
Esse esvaziamento causa prejuízos, complicando drasticamente a continuidade de veículos impressos – não por acaso temos visto um monte de revistas e jornais descontinuando suas impressões. E aí surge um novo problema, que é a extrema resistência dos potenciais anunciantes para comprar espaços publicitários em site.
Há um clichê que diz que internet não gera renda. E aí está uma estupidez absurda que se instaura no mercado, pois um banner é muito mais eficiente que uma imagem impressa na página de um jornal, por exemplo. A consequência é que diversas macas de renome têm dificuldade de se manter mesmo no on-line, em que os custos são mais baixos e, por isso, o valor de banners também (se comparado aos anúncios impressos).
Bem, toda essa merda esparramada, com a qual ainda não aprendemos a lidar, transformou seriamente a postura de várias empresas midiáticas. Estas aproveitam a desculpa da crise para justificar salários risíveis a profissionais. Alias, algumas até vêm com o papo-furado de encontrar idiotas que topem escrever de graça em troca de portfólio. E funciona!
A qualidade, de modo geral, caiu. Sabe por quê? Porque o jornalismo vem tratando de destruir a si próprio, com práticas do tipo da citada acima. É uma autofagia. Hoje se aceita qualquer um – se não for jornalista, não tem problema (ainda que seja para uma função de jornalista). O importante é ter recordes de visualizações, de curtidas.
Os textos viraram releases malfeitos oriundos do marketing digital, as matérias costumam vir com erros grotescos, as entrevistas, com perguntinhas ruins e tema explorado na superfície, o cuidado virou frescura descartável, apuração e checagem tornaram-se perda de tempo. Não são todos, claro, mas é o que tenho visto nos últimos anos nos canais que sempre acessei (e que tinham mais refinamento antes).
Henrique Inglez de Souza