Ser afetado
Era meados de abril de 2020, o mundo se via diante da maior pandemia do último século e eu me via na fila de um banco para tentar pegar o informe de rendimentos para declarar o imposto de renda. A fila era grande e o pânico da doença também, pensei comigo mesmo "Estou me expondo por um papel que poderiam me mandar por e-mail, que m* estou fazendo numa fila de banco?"; imediatamente saquei meu celular e liguei para 0800 do banco na expectativa de um atendimento rápido para solucionar algo simples. Retirei o papel no banco, a ligação nunca chegou a um atendente.
Depois do ocorrido esbravejava com amigos que era um descaso do banco com o consumidor, que não era um banco que colocava o consumidor no centro das suas ações, faltava aquela percepção bonita que o marketing e a publicidade vem trabalhando nos últimos anos. Depois me veio o pensamento, como estava sendo para os trabalhadores do call center do banco? Será que eles tinham recebido o suporte necessário para exercer aquele trabalho em segurança? Teria o banco a preocupação com o cliente e com o trabalhador?
Ora, consumer centricity virou termo comum nas rodas de bares dos estudiosos do consumo, mas é uma noção ainda deveras arrogante de nossa parte. A ideia de se preocupar com todos os lados da relação de consumo vai além do consumidor e tem que, do ponto de vista da relevância, apagar a instituição; a esta cabe apenas o papel de agir em prol dos humanos com que ela se relaciona (através de outros humanos).
Human centric então surge como uma nova forma de construção de relacionamentos entre os que adoram os termos algo-saxões. O humano sempre esteve no centro, a questão não é a centralidade, pois essa sempre será humana. A questão é tão somente como lidar com essa relação e, para mim, a resposta passa essencialmente por se deixar afetar , deixo com você a grande reflexão de Favret-Saada que nos ajuda a entender o afeto e a empatia.