Somos reflexo de nossas referências criativas
Inquietações sobre o quanto nosso "eu criativo" age como nossas inspirações e mentores
Você já parou para pensar que o modo como cria ou age é um espelho das influências das pessoas que você admira e segue?
Pois bem. Reflita sobre as pessoas que você admira no campo criativo. Em seguida, analise como essas pessoas lidam com determinados assuntos ou processos criativos e questione-se se você não adota uma abordagem semelhante.
Trabalhando na indústria criativa há duas décadas, percebi que a forma como as pessoas criam está muto ligada com seus pares e espelhos de referência.
Praticamente, seguimos uma cartilha influenciada por quem se destaca no mercado, fala mais alto e tem mais engajamento.
Já trabalhei com grandes profissionais ao longo desse tempo e pude perceber que suas atitudes estavam muito relacionadas aos seus influenciadores e às pessoas que consideravam como gênios criativos. Um desses colegas, por exemplo, é um grande admirador de Elon Musk. Pois bem, você já viu inúmeros resultados das empresas em que o empresário atua. Mas por acaso já o viu criando, cocriando com a equipe e compartilhando isso? Eu não. E as atitudes desse meu colega eram semelhantes. Quando ele se envolvia em um processo criativo, tudo era fechado, inacessível e pouco colaborativo. Ao cocriar, pouco considerava as ideias dos demais. Enfim, não existia cocriação com ele.
Claro que não podemos justificar todas as ações de alguém apenas com base em seus ídolos, pois há muitas camadas de personalidade em questão que contribuem para sua formação. No entanto, o que quero destacar aqui é que muitas de nossas atitudes são influenciadas por nossos modelos de referência.
No final das contas, como somos reflexo de nossas influências, encontraremos uma variedade de perfis criativos em nosso caminho. Se não estivermos abertos a aprender e a expandir nossos horizontes com essas diferenças, é provável que enfrentemos dificuldades no processo criativo.
Você é a soma das referências que te limitam
Sim, as mesmas referências que te expandem, também podem te prender em bolhas de direcionamento e opinião. Somos seres altamente influenciáveis e as suas fontes te conduzem a atitudes que podem facilmente te limitar.
São suas fontes de inspiração e referência que te formam (coloca em formas) e te acorrentam em estruturas de pensamentos e códigos na cultura que faz parte.
Ou seja, ler, conversar, ouvir, seguir e ver sempre as mesmas coisas, com as mesmas pessoas, pode criar uma grande miopia em relação à forma como você enxerga e encara o mundo de fato, diante da pluralidade e diversidade que o mundo realmente possui.
Tenho formação acadêmica como publicitário. Trabalhei por uma década como diretor de arte em agências, onde o processo criativo geralmente começava com um briefing, passava por um brainstorm mal conduzido e era finalizado pela equipe responsável. Eu ficava incomodado com a falta de ferramentas para orientar a criatividade e com o brainstorm sendo apenas um ritual vazio, em vez de uma técnica eficaz para desenvolver conceitos e ideias. Eu admirava grandes nomes da área publicitária (e ainda admiro), mas não sabia nada sobre como eles criavam, apenas via os resultados de suas obras-primas. Mesmo assistindo às suas palestras muito concorridas, não conseguia aprender sobre o processo criativo; em vez disso, eram apenas histórias e anedotas sobre seus egos e epifanias criativas.
Quando entrei no campo do Design, ao longo de especializações, mestrado e doutorado, tive a oportunidade de aprender muito sobre processos, ferramentas e abordagens. Com isso, pude complementar meu conhecimento como publicitário, incorporando lições de diversas referências criativas provenientes do Design. Conheci profissionais experientes e renomados que compartilharam seus processos de criação passo a passo, incluindo seus conceitos, painéis e esboços, o que me inspirou enormemente e influenciou significativamente minha abordagem criativa dali em diante. Isso reflete um pouco da natureza da Arte também, uma área pela qual sempre fui apaixonado, onde os processos são frequentemente transparentes e contribuem para o resultado criativo do artista.
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Por exemplo, quando participei da criação do curso superior de Publicidade e Propaganda na Unisatc (Criciúma/SC) há 10 anos, eu e outros colegas incorporamos abordagens criativas do Design nas ementas e em algumas disciplinas, mantendo sempre a essência e o propósito publicitário, claro.
Tanto é que a forma como crio e facilito processos criativos pela Metoludi é de maneira co-criativa, utilizando ferramentas que servem como mapas de orientação para uma efetivação da ideia e que promovem autonomia criativa nas pessoas. Fui e continuo sendo profundamente influenciado pelo ambiente que me moldou e pelos profissionais que me inspiram, e tenho plena consciência disso. Assim como nestes exemplos, também reconheço o quanto influencio por meio das minhas ações. Isso me confere uma grande responsabilidade em tudo o que desenvolvo e compartilho com o mundo.
Você tem ideia do quanto também influencia outras pessoas por meio de suas ações?
Indo para o final desta reflexão, quero retornar a uma questão aqui. Relembrando o exemplo do meu colega que admira Elon Musk, gostaria de perguntar: quem está mais correto em sua abordagem criativa, esse meu colega (individualista e reservado) ou eu (colaborativo e aberto)? Deixe de lado os resultados criativos que não foram discutidos nestes exemplos.
Bem, a resposta sempre dependerá do contexto. Às vezes, será necessário estarmos abertos à colaboração, enquanto em outras ocasiões, precisaremos mergulhar em nossa própria imersão individual. O importante é termos consciência das nossas ações e do quanto estamos construindo ou seguindo a personalidade criativa de terceiros.
Por isso, faça uma lista das suas grandes inspirações e perceba:
Perceba o quanto você está alinhado ou deslocado do meio criativo no qual está inserido. Tenha consciência das suas ações e de como você pode potencializar suas ideias ampliando suas percepções e fontes de referência.
Este artigo é uma pequena expansão dos capítulos "Quais são suas referências?" e "Quais são seus indutores criativos?" do meu livro "Provocações Criativas: questionamentos, inquietações e caminhos para uma vida pró-criativa", publicado no ano passado. Nele, compartilho insights e questionamentos sobre o universo da criatividade e inovação.
Para expandir um pouco mais esse assunto. Falo sobre criatividade com o amigo Paulo Canova em seu Podcast Direto e Reto, e você pode ouvir aqui.
Sucesso e até a próxima!
Aprender - habilidade que destrava todas as outras . founder @AprenderDestrava & @ProfeTalks - agência & comunidade de aprendizagem . train the trainers . criatividade . inovação . design . cofundador @EmpresaNoEIXO
11 mCara, seu artigo que me fez lembrar dessa obra de Susano Correia (O homem lotado de ideias dos outros não encontra espaço para as próprias). Referências são fundamentais, mas as vezes é preciso chamar uma Marie Kondo mental e dar uma disfarçada na bagunça.
Coordenador de Marketing Senior LATAM at Axis Communications | Marketing Digital | Marketing de Produto | Podcast | Branding | Comunicação | Relações Públicas
11 mExcelente conteúdo! Sempre conhecendo as camadas e cavando cada vez mais fundo.
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11 mPenso muito também ainda, e gosto de ir atrás, das pessoas que são as referências das nossas referências. Descobri muita gente e muita coisa legal, por exemplo, conhecendo os artistas que meus artistas favoritos se espelham.
Especialista em Rótulos e Embalagens | Designer Palp Studio® | Palestrante | MBA em Desenvolvimento de Embalagem (FACAMP) | Co-autora do livro Rotubook (+1.000 cópias vendidas)
11 mPerfeito. Eu tenho o livro e muitas vezes me pego voltando para um capítulo já lido para ver o conteúdo com novos olhos, novos horizontes.. e assim vou fazendo novas conexões. Amei a reflexão que trouxe aqui hoje. Parabéns.