Tudo tem um início, o meu foi um burnout
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Tudo tem um início, o meu foi um burnout


O ano era 2019.

Eu estava em uma sala de reunião apertada, falando com a liderança da América Latina para o seguimento (ou não) dos projetos que cuidava. Olhando para o computador, falando com a "estrela" de audioconferência.

Até aquele momento, parecia um dia como qualquer outro. Mas, não seria assim para mim.

Assim que a reunião acabou, fechei meu computador e ia subir as escadas na direção da minha mesa. Senti tudo rodar.

Parei, sentei novamente e pensei: "acho que não comi direito hoje". Levantei novamente e parei na frente da escada. Tudo rodava ainda mais. Era uma sensação de estar num barco, no meio à uma tempestade. Ânsia e aperto no peito.

Sentei no primeiro degrau dessa escada e uma amiga percebeu minha condição, se oferecendo para ajudar.

Dali fui direto para o hospital, para o pronto-socorro. Mandei mensagem pro meu marido, de que logo estaria em casa. Afinal, era "algo bobo, como pressão baixa ou algo assim". Mas, não era só isso.

Segundo o médico, eu estava com uma crise de labirintite aguda desencadeada por alto nível de estresse.

Eu teria que tomar medicação na veia, mais algumas medicações por vários dias para sair da crise e ficar afastada por, pelo menos, duas semanas para não piorar. "Afastamento por estresse", que hoje seria CID-11.


Imagem real, enviada pro WhatsApp do marido, dizendo que "estava tudo bem". Fonte da imagem: arquivo pessoal

O burnout estava começando a ser considerado como doença do trabalho pela ONU. Ainda não existia CID.

Eu saí dali devastada, me sentindo frustrada e "fraca". Com um atestado de 15 dias que eu tinha "vergonha" de entregar.

"Como assim, afastada por estresse? Será que não sei lidar com pressão? O que irão pensar de mim? Uma gerente que fica estressadinha após uma reunião importante e tem um colapso?"

Eram algumas das muitas coisas que passavam pela minha cabeça. Hoje vejo que nem eu soube me acolher em absolutamente nada. E, não digo que estava certa. A verdade é que eu estava absolutamente errada.

Mas, pela minha experiência, o burnout não pede licença. Ele não chega devagar, ou então nós não enxergamos os sinais "amarelos". Quando vem, já é direto o sinal "vermelho".

Talvez, olhando agora para trás, eu tive diversos sinais. Mas, só consegui ver que eles estavam ali quando o copo realmente entornou.

Foram dias procrastinando atividades que eu não queria fazer. Diversas reuniões que me faziam ir ao banheiro e chorar. Muitos diálogos até mesmo abusivos, que me faziam sentir sempre insuficiente para a função. Impostora, era assim que eu me sentia todos os dias. E, não sentia espaço em lugar nenhum para me abrir sobre isso.

Meus feedbacks eram ótimos. Sempre com aumentos por mérito. Com projetos relevantes e estratégicos. Em uma empresa que muitos sonham estar.

Eu só podia me sentir louca. E fraca.

Quando retornei, após as duas semanas, tudo o que me levou ao esgotamento estava igual. Ou, até mesmo piorado, ouso dizer. Afinal, o que era de minha responsabilidade já estava acumulado por duas semanas de ausência.

O afastamento pela "fraqueza" (era como eu pensava naquele momento) só tinha me gerado ainda mais problema.

Eis que, nem dois meses depois, outro sintoma. Um travamento na cervical que me fez chorar de dor, e atacou de novo a labirintite, claro. Mais um pronto-socorro, remédios fortíssimos para a dor e outro diagnóstico de alto nível de estresse. E mais um afastamento por outras duas semanas.

Eu não tratei o burnout. Eu tratei apenas os sintomas dele.

Na verdade, só soube o nome "disso" alguns bons anos depois, quando pude reavaliar minha carreira.

Naquele momento, a pandemia veio para mim como um grande bálsamo, onde pude ficar em casa e evitar contato com o que estava me fazendo mal. Pude repensar minha carreira, meus valores e mapear o que fazia sentido para mim.

E, estruturei minha transição de carreira com segurança, com planejamento, trabalhando em tudo o que fazia sentido para mim e para minha família. Eu decidi que não queria ser uma executiva dando em troca a minha saúde. Decidi que queria poder ajudar as pessoas a terem liberdade de escolha em suas carreiras e, assim segui pelos próximos anos até efetivar meu desligamento em 2022.

Eu sei que nem todos tem essa possibilidade, que nem todos conseguem se afastar e se permitir pensar e estruturar os próximos passos.

Mas, se eu posso tirar algo disso é: tire tempo para você, enxergue os sinais do esgotamento antes que seja tarde demais, não ignore sintomas de que as coisas não vão indo bem em sua carreira e que sua vida pessoal está sendo afetada. Busque ajuda. Burnout não é, e nunca será, sinônimo de nenhum tipo de fraqueza.

E, confesso, vira e mexe ele ainda me assombra - o modo corporativo vira meu modus operandi com muita facilidade, mas agora eu pelo menos sei reconhecer os sinais e me priorizar.

Fato é: o burnout não é fácil. A recuperação não é simples. E, uma transição de carreira nem sempre é a única opção.

Mas, sempre vale utilizar esse momento para repensar sua trajetória até aqui, e construir um caminho com mais sentido para VOCÊ.


PS: escrevi esse texto apenas para relatar minha experiência e como isso alterou meu caminho de carreira. Vale ressaltar que não sou médica, e nem especialista em burnout. Para mais informações e para um diagnóstico preciso, busque sempre ajuda especializada.

Recomendo o conteúdo da minha querida amiga Carol Milters 💛 para quem quiser um aprofundamento!


Luanna Müller Carvalho

Gerente de contas | Especialista em Aplicação | Vendedor(a) Técnica | Engenheira Química

5 m

Gratidão por compartilhar.

Jullyanna Sobrinho

Gerente Sênior Regional Qualidade | Sistema de Gestão Qualidade | Gestão em Qualidade e Projetos | Liderança de Equipe Alta Performance | Gestão & Planejamento Estratégico

9 m

Que texto e como me identifiquei com cada palabra. Obrigada por seu suporte neste moemnto d eminha carreira!

Adriana Moraes

Coach de Vida | Palestrante | Especialista em Análise de Perfil Comportamental | Desenvolvimento da Mentalidade | Sucesso profissional | Sucesso Pessoal | Palestrante Produtividade

1 a

Só essa foto já bastaria... 😰 "que sua vulnerabilidade seja nossa força" . Obrigada por compartilhar algo tão sério e íntimo e poder acolher os que se sentem assim com propriedade. Nada é por acaso e a Pandemia que veio levar muitos, veio te salvar. Você tem muito a contribuir para o mundo. Parabéns por olhar pra si mesma e ter coragem para mudar. Que seu exemplo inspire muitas pessoas 😍

Alexandre Serrano

Diretor de Operações | Gerente Geral de Operações | Gerente Executivo de Operações

1 a

Aline excelente esta reflexão e a coragem de compartilhar a sua história, pois esta é uma condição que as corporações ainda estão aprendendo a lidar e difícil de ser compreendida. É importante sim ter uma carreira bem estruturada, bem planejada, mas acima de tudo saudável e que faça sentido. Saúde e Felicidade trazem resultados surpreendentes..

Excelente reflexão e obrigado por compartilhar!

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