Um Dia novo
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Um Dia novo


Hoje é mais uma segunda feira, entretanto sem a conotação de sempre. O “mais” na frase anterior tem nesta segunda, um significado diferenciado. Me explico. Segunda feira, após um domingo de páscoa. Só isso já a faz diferente de todas as outras 51 segundas feiras de um ano, mas neste ano, esta segunda, após esta Páscoa, tem um sabor de conquista nunca antes imaginado, nem pelas mais brilhantes mentes do planeta, nem talvez, porque não conheço todos, pelos profetas da história. Sim, conquista, mas num sentido também de conotação diferenciada. Conquistas nos remetem à expansão, ocupação de novos espaços, tanto físicos (externos), quanto na percepção (internos) de quem nos observa. Mas a conquista desta segunda feira, 13 de abril de 2020, é de um espaço e percepção de valor interno, em cada um de nós.

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Sigo me explicando. Nos últimos 20 dias, no meu caso, mas a mais tempo para o resto da humanidade, fomos cerceados de nossa liberdade de ir e vir, por uma contingência sanitária, que é o ponto mais básica da nossa estrutura humana. Mas segundo Antonio Rubbo Muller, um sociólogo e antropólogo brasileiro formado em Oxford, que publicou a TOH ou Teoria da Organização Humana, existe um nível abaixo o sanitário, o do parentesco. Sem entrar em muitos detalhes aqui, ele postula que antes da estrutura básica individual, onde nossa saúde é tratada, há a estrutura familiar onde nascemos e crescemos, que nos dá a sustentação para toda a estrutura dos 13 subsistemas que vem acima deste.

Hoje, com nossa movimentação limitada pela questão sanitária imposta pelo COVID19, nos vimos então confinados no subsistema de parentesco, convivendo de forma mais intensa e presente com nossos familiares, sem contudo deixar de estar atentos a todos os demais níveis da nossa vida.

A vida dentro de casa nunca teve tanta vida e interação quanto nos últimos dias, mas, olhando pela janela, o mundo lá fora, parece morto. Isso nos angustia e no impele a querer saber e fazer algo, para voltarmos ao “normal”. Mas taí uma palavra que a partir desta pandemia, terá também uma nova conotação, o que nos remete à questão: Voltaremos ao normal, ou teremos um “novo normal”?

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Lendo a liturgia cristã deste domingo, me deparei com a imagem de um sepulcro usado vazio. Vamos nos debruçar um pouco sobre esta visão. Não é uma situação normal! Ninguém esperava, até aquele dia, se deparar com um sepulcro que havia sido ocupado 3 dias antes, vazio, sem indícios de vandalismo ou ato impróprio de terceiros. Certamente, apesar de anunciada pelo próprio Jesus e cultuada pelo judaismo à época, a ressurreição não é um fato corriqueiro do dia a dia das pessoas. Sempre haveria um espaço para espanto ou dúvida. 

Mas o fatos que se seguiram, da segunda feira em diante, mudariam o rumo da humanidade, para um outro destino, ou pelo menos interferiria, com um novo conjunto de valores, que pretendia ser um marco para a mudança tão bem pregada. De fato, para nós do tempo póstumo da época, se tornou um divisor dos tempos, AC, DC.

Então os herdeiros da aprendizagem que o Mestre deixou, se mobilizaram para dar seguimento à missão delegada, criando uma comunidade em torno do assunto central, para que uma nova jornada fosse iniciada. Uma nova travessia, dentre tantas relatadas nas sagradas escrituras, mas agora uma travessia de cunho íntimo, cujo destino não era mais uma terra prometida, mas uma atitude almejada em torno do assunto central da comunidade, o amor ao próximo.

Pois então. Lá se vão 2020 anos e estamos nós de novo numa segunda feira depois do domingo da ressurreição. No sepulcro, deveria estar a representação daquilo que crucificamos por toda nossa vida, o amor ao próximo, depositando toda nossa energia, inteligência e livre arbítrio, em tudo que estava nos subsistemas sociais que ficam do lado de fora da janela. O sepulcro do nosso passado está vazio e à nossa frente temos uma nova chance de empreender a mesma travessia, começando dentro do nosso espaço mais próximo, junto ao nosso próximo mais próximo, na família, tentando de novo trazer o assunto central da comunidade original, o amor, para onde nunca deveria ter saído, o centro de nossas vidas.

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O impossível se juntou com o improvável e o mundo definitivamente parou para sentir! Nunca, de forma tão intensa e singela, o coração humano esteve tão em tela, literalmente. Coração que vinha sufocado, mal oxigenado pelos vícios da tão aludida vida moderna. Precisamos de um vírus que entope nossos pulmões e ameaça parar nosso coração de sufoco, para nos levar a oxigenar os nossos sentimentos mais humanos. De tantos que temos visto, nas varandas cantantes, nos mutirões operantes, quero render hoje a minha homenagem àqueles que lutam incessantemente pela vida, no sistema de saúde, em busca da esperança da contenção da onda de instabilidade que nos fez parar. Estes são os verdadeiros discípulos que seguem obrando na sua seara, se transformando a cada dia, no Cristo daqueles que atendem.

Que tenhamos a capacidade, a humildade, o discernimento e a coragem, de nos descongelamos de nossa posição “confortável” e rumar para dentro de nós e para mais perto de nossas famílias, construindo um novo mundo, uma nova terra, num Dia novo, que para vir a ser, demandará de nós a postura de SER...VIR.

Bom Dia novo a todos!

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