10 ideias que ouvi no Rio de gestores de bilhões
Fonte: Karyme França, em Pexels

10 ideias que ouvi no Rio de gestores de bilhões

Saquei a câmera pra registrar no Instagram o belíssimo calçadão do Leblon sob a luz de fim de tarde. Recebi em troca mais do que imediatamente um monte de mensagens que bem poderiam ter sido escritas pela minha mãe: “Cuidado com esse celular”.

Mal sabiam que o que guardava de mais valioso na bolsa era outra coisa: o meu caderno. Depois daquele alerta passei a fotografar as páginas dele todos os dias antes de dormir e me enviar por e-mail.

Eu, meu caderno e minha caneta tiramos a semana passada pra circular no mercado financeiro carioca. Em um total de 12 cafés, almoços e jantares – fora os encontros na rua e no elevador – ouvi muita coisa valiosa. Circulei entre algumas das maiores referências em gestão de fundos do Brasil. Não vou listar aqui porque várias delas são extremamente discretas e não gostam de ser citadas, mas confie em mim: gente muito grande e com histórico consistente.

À essa altura você está me achando antiquada. Eu bem poderia levar comigo um iPad e cada palavra dos gestores chegaria rapidamente à nuvem, mas já tentei no passado e não funcionou pra mim. Senti que o simples fato de colocá-lo à mesa, em vez da clássica dupla papel e caneta, causava um distanciamento com quem converso. E a proximidade é algo valioso demais pra se desperdiçar quando se faz análise.

No meu caderno, anoto tudo, mas enquanto converso costumo destacar de alguma forma o que percebo na hora ser algo diferenciado, original. O bloco vira uma colcha de retalhos, aos quais vão se somando outras informações e análises à frente. Amarro tudo, traduzo e trago pra você.

Decidi compartilhar um pouco da colcha de retalhos, porque tem muita riqueza nela. Então vamos a dez coisas importantes que ouvi no Rio de gestores renomados, sendo que uma não tem necessariamente qualquer relação com a outra.

Pode ser que você ache muito complicado, pode ser que você tire algo rico daí. Veja com seus próprios olhos essa seleção:

  1. Siga o fundamento: negócios ligados à economia doméstica, como saúde e varejo, têm sofrido na Bolsa. Para muitos deles, entretanto, o preço no mercado não reflete a realidade das empresas, que têm cortado custos, estão pouco endividadas e têm mostrado crescimento nos resultados trimestrais. Ou seja, muitos preços refletem mais o cenário macro do que a realidade micro das companhias. E, para prazos longos, os preços costumam aderir aos fundamentos.
  2. Compre líderes: períodos de recessão costumam beneficiar empresas líderes de mercado. O fato de elas serem as mais preparadas de seu setor para enfrentar a adversidade faz com que tendam a capturar clientes das outras. E esse é um momento em que gestores dizem estar pagando muito pouco por empresas excepcionais, de olho no longo prazo.
  3. Juro alto não é desculpa: muita gente usa os juros altos pra justificar o preço das ações na Bolsa. As pessoas estariam correndo para a renda fixa, dado que o retorno é alto. Mas até mesmo o excesso de retorno projetado da Bolsa sobre o título mais longo do tipo Tesouro IPCA+, que reflete os juros esperados para o futuro, está em níveis historicamente altos.
  4. A hora da renda: se você está prestes de se aposentar e pretende converter um pedaço de seu patrimônio acumulado em renda (só o suficiente para pagar o plano de saúde até seu falecimento, por exemplo), essa pode ser uma boa hora para cotar na seguradora. Explico: ela leva em conta os prêmios dos títulos públicos para definir o tamanho de sua renda vitalícia. E eles estão bem gordinhos no momento.
  5. Pare de esperar: o mercado se resolve em poucos dias. Quem fugir da volatilidade e ficar tentando adivinhar a hora de voltar pode perder boa parte da recuperação. É por isso que os gestores estão com os caixas dos fundos pequenos, preferem estar muito alocados em ações.
  6. Lá vem o gringo: há uma boa expectativa sobre a vinda de fluxo de investidores estrangeiros para a Bolsa brasileira, o que ajudaria na recuperação. De um lado, o risco fiscal atrapalha. Do outro, o Brasil está relativamente bem ante os pares, já que está difícil investir em países como China, Rússia e Índia.
  7. Cuidado com o crédito: alguns ativos de crédito têm tido suas avaliações de risco remarcadas, como aconteceu com Le biscuit, Tenda e Via Varejo. A tendência é aumentar a dispersão de retorno na indústria de fundos de crédito, com alguns sofrendo com a seleção errada de papéis. Melhor se apegar a gestores experientes.
  8. Menos petróleo: a Vista, gestora carioca que ganhou os holofotes depois de passar muito tempo como o multimercado mais rentável do ano, está zerando a posição em petróleo, que lhe deu tantas alegrias. O óleo chegou a ser 70% do risco do fundo, hoje são 15%. Não há previsão de reabertura nem do Hedge nem do Multiestratégia – já respondendo a pergunta que tanto recebo. E lembre-se: o fundo é uma pimentinha da carteira de multimercados, não exagere na dose.
  9. Mais Gávea: tem figurinha brilhante aberta, o Gávea Macro Plus, a versão de mais alta volatilidade da casa de Arminio Fraga. Não investimos em multimercados para um horizonte de menos de três anos e recomendo esse fundo há bastante tempo, mas o fato é que neste ano ele surpreende com ganho de 22% contra CDI de 10% até aqui. O fundo é restrito a qualificados, mas, atendendo a uma demanda nossa, o mínimo foi reduzido de R$ 100 mil para R$ 10 mil na distribuição. Tem no BTG e na XP, sendo que na segunda tem que pedir pra quem te atende, não aparece na telinha.
  10. Morra com zero: ainda na viagem baixei o livro “Die with Zero”, de Bill Perkins, no Kindle. Foi uma recomendação do CEO da Icatu, Luciano Snel. O livro, que tem feito barulho fora, sugere que você se programe pra gastar todo seu dinheiro em vida. Até porque estamos vivendo cada vez mais. Quando você morrer, provavelmente seu filho terá mais de 60. Faz sentido se preocupar em guardar pra ele? Ou melhor maximizar o aproveitamento da sua própria felicidade ou até fazer doações em vida para os herdeiros ainda jovens? Bela reflexão, né? Estou lendo e trago mais aqui.

No mais, agradeço a você que me deixou a recomendação pra visitar a exposição dos Gêmeos no CCBB. Está incrível.

Um abraço,

Luciana Seabra.

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Saulo Guidotti

Webmaster - Criação e Otimização de Sites

1 a

Olá Luciana, preciso falar com você sobre mercado futuro. Me dá um tok em 53 984-495034

Ótimo artigo que bom que está de volta.

Adorei este artigo. Sempre aprendendo com você. 😉

Valmir Santos

Gerente de Manutenção Eletromecânica na Embasa

2 a

Show de bola

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