Coaches e Mães
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Coaches e Mães

  • Faltando poucos dias para o final do ano, me peguei hoje fazendo um balanço dos acontecimentos deste último mês.

    Sou mãe de dois meninos. Mãe coruja, como são as mães.

    Nos últimos 30 dias tivemos várias comemorações, daquelas que lotariam meus posts no Facebook, se eu os tivesse feito. Fiquei cheia de orgulho, assim como todas as mães dos amiguinhos dos meus filhos, que também celebravam suas conquistas do ano: foram duas cerimônias de troca de faixas no judô, duas cerimônias de passagem de nível na natação, uma entrega de medalha das Olimpíadas de Robótica, formatura do ensino infantil do meu filho mais novo.

    E neste último comentário, pego um gancho: meu filho tem 6 anos, e foi o orador e leu o juramento dos alunos. Ele começou a ler com desenvoltura poucos dias após completar 5 anos, e não só ele mas todos os amigos leram na cerimônia. Ele estuda em uma escola que ensina através de projetos multidisciplinares, escolhidos pelos alunos, em inglês e em português. Por várias vezes me perguntei se aquele sistema de ensino realmente funcionaria.É muito diferente para quem estudou à moda antiga, aprendeu primeiro que b+a=ba, decorou tabuada, não podia falar sem permissão na sala, e ia bem na prova quando sabia toda a matéria de cor. Mas meus dois filhos dão constantemente demonstrações de que estão avançando a passos largos em termos de conhecimento, raciocínio e atitudes.

    Sim, atitudes. Além dos temas tradicionais, meus filhos também recebem avaliações em temas como empreendedorismo, criatividade, liderança.... São comportamentos que lhes serão úteis sempre, e que juntamente com outros saberes e conhecimentos, formarão suas competências para a atividade profissional que escolherem.

    Sou coach executiva e de carreira. Coach atenta a comportamentos, como são os coaches.

    Ao longo de minha vida corporativa, foram quase 25 anos convivendo com pessoas de origens e formações distintas. Alguns com formações nas melhores universidades do país ou do exterior, outros formados em cursos considerados de segunda linha; alguns de famílias de alto poder aquisitivo, com vasta formação cultural, outros de origem mais modesta; homens, mulheres, jovens estagiários ou altos executivos.

    Voltando à escola, todas essas pessoas completaram seus estudos em algum momento. Foram alfabetizados, aprenderam a tabuada, história, geografia, ciências, passaram de nível, receberam medalhas, enfim, cumpriram o currículo escolar e universitário, conforme o sistema educacional vigente. No entanto, apesar de terem passado pelas mesmas etapas educacionais, vi desempenhos e atitudes tão diversas quanto as origens, formações e personalidades desses profissionais.

    Segundo Le Boterf (1995), citado por Fleury e Fleury (2001)*, competência é um saber agir responsável e que é reconhecido pelos outros. Implica saber como mobilizar, integrar e transferir os conhecimentos, recursos e habilidades, num contexto profissional determinado.

    Pois então, estamos falando de formas de agir. Não estamos falando apenas de conhecimento técnico, formação acadêmica, de quantidade de diplomas ou cursos. Estamos falando de como agem esses profissionais, e de qual impacto um determinado comportamento tem em seu desempenho, resultados e aspirações. E se não for o impacto desejado, o primeiro passo é reconhecer; e o segundo, é agir para mudar este comportamento e desenvolver atitudes que serão mais positivas.

    E quão desafiadora pode ser essa mudança de comportamento!...

    Muitas vezes são comportamentos que vêm sendo formados desde a infância. Por isso vejo de forma muito positiva que existam escolas que incentivem e avaliem atitudes como liderança, cooperação, empreendedorismo. Mas, além da escola, outros momentos de socialização e convivência são igualmente importantes para o desenvolvimento de atitudes que acompanharão as crianças pela vida.

    E aqui compartilho outra observação que tenho feito nos últimos dias. Estamos em período de férias escolares. Pais buscando atividades para entreter as crianças que passarão por volta de 2 meses longe da escola. A praia, quadra, piscina ou playground de um condomínio ou clube passam a ser, com mais ênfase neste período, local de socialização e desenvolvimento. As crianças, brincam, convivem, compartilham, brigam. E como brigam!... Disputam espaço, comando, competem; mas depois alguns minutos, fazem as pazes, as coisas se acomodam e reorganizam a brincadeira.

    E o que vejo às vezes nesses momentos é um alerta para o que veremos no futuro, quando essas crianças se tornarem profissionais. Pais superprotetores, que consideram que seus filhos fazem tudo certo, e as outras crianças é que estão erradas. Pais que tiram satisfação com outros pais porque seus filhos não foram bem recebidos na brincadeira; que se revoltam quando seu filho perde o brinquedo para outra criança – e vão discutir com a própria criança! Que criticam a reação enraivecida de uma criança, mas não querem enxergar que a causa foi algo que seu filho fez.

    A meu ver, esses pais não permitem que seus filhos se frustrem, que aprendam a se defender sozinhos, a conquistar seu lugar no grupo. Não dão espaço para a criança testar seus limites, entender causa e efeito, e saborear a sensação boa de conquistar algo por si – ainda que seja um lugar na brincadeira.

    Não estou falando aqui de displicência com questões mais sérias ou que ameacem a integridade da criança em qualquer instância. Estou falando de permitir que a criança desenvolva, com a brincadeira, comportamentos e atitudes para a vida.

    Temos relatos na Korkes & Cintra Coaching de profissionais de RH que nos contam terem recebido ligações de pais querendo entender porque o filho foi repreendido pelo chefe; e de situações de mães que acompanham os filhos nas entrevistas de emprego. Preciso dizer mais alguma coisa?...

    Não sou educadora ou conhecedora de métodos pedagógicos. Mas como coach, sei que são as competências comportamentais que diferenciam os profissionais.

    Como mãe, sei que não dá para delegar ou restringir à escola o desenvolvimento de comportamentos que farão dos meus filhos não só bons profissionais, mas pessoas melhores.

    E como mãe e coach, sei que é a cada dia, a cada atitude e experiência vivida, que vamos nos tornando aquilo que queremos ser.

    E que bom que temos novos 365 dias pela frente!

    Feliz 2016!

      (Renata Guimarães Cintra é Coach, membro do ICF – Internatinal Coaching Federation e sócia na Korkes & Cintra Coaching)

    * Artigo de Maria Tereza Leme Fleury e Afonso Fleury, em Revista de Administração Contemporânea, Online version 1982-7849, vol 5, Curitiba 2001

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