Conversa sobre edição
Você fica feliz com o sucesso de outros profissionais? Eu me emociono e fico feliz ao ver o entusiasmo de novos profissionais no mercado editorial, rico, amplo, plural e diverso, mas, por vezes, cruel.
Muitas vezes vemos ou sabemos de pessoas com grande potencial que abandonaram o setor ou se tornaram profissionais que entregam só o razoável e, às vezes, baixa qualidade, após terem trabalhado/convivido com gestores incapazes de gerenciar de forma humana integrantes de sua equipe.
Em qualquer profissão há gestores que se destacam, outros que são ótimos e aqueles que nada entregam, culpa a todos e faz adoecer toda a equipe. Muitas vezes essa má gestão é fruto da arrogância, da prepotência e do ego. Falei sobre isso em uma conversa rica com uma profissional do meio editorial dia desses. Reproduzo, a seguir, parte do que escrevi a essa profissional, com foco na área editorial.
1. O ato de ensinar deveria ser regra a quem já passou pelas etapas iniciais de formação na área editorial. Mas nem todos pensam assim e vai se criando um ambiente em que cada um se vira como pode. E isso é ruim para todo mundo. Papel de gestão não é jogar problemas para colaboradores e usar a desculpa “quero ver se são criativos e quem se destaca”. O que sobressai em atitudes assim é a incapacidade gerencial e administrativa do próprio gestor.
2. Gestor precisa orientar, explicar, definir, determinar, apontar caminhos, mostrar na prática como deve ser feito e, no caso do editorial, elaborar documentos em word, se necessário, com exemplos de como produzir o material. Medida essa que facilita a compreensão do percurso a ser seguido para a execução de cada obra. Isso vale também para relação editor/autor. Gestor precisa chamar sempre que preciso, corrigir, dar feedbacks constantes, formar novas lideranças.
3. O ego é um grande problema existente em diversas profissões, mas que se destaca na área editorial tanto quanto nas áreas teatral e jornalística (com as quais tive a oportunidade de trabalhar). O ego parece ter grudado no meio editorial, persiste, não larga, não vai embora, é pegajoso e se você não se cuidar, será vítima dele. O ego destrói reputações e carreiras. Limita a sua capacidade de aprendizado, te faz sentir como se já soubesse tudo, até que o tombo te mostra o chão. Por isso, evite o ego.
4. Evitar o ego não é deixar de valorizar as suas realizações. Valorize o seu trabalho, a sua pessoa, as suas formações, grite ao mundo sobre elas, se necessário, mas jamais o faça amparada pelo ego. Da mesma maneira que nunca - nunca mesmo! - deixe alguém diminuir as suas conquistas e realizações profissionais.
5. É sempre importante aprender algo novo todo dia, mesmo que seja algo bobo, mas aprenda! E não fique constrangido se não souber algo, se não leu aquele clássico, se não conhece aquela revista, se não assistiu aos badalados filmes. Cada um de nós tem um ritmo, um momento de descobertas e diferentes perspectivas. A soma de tudo nos forma e nos torna ricos. Valorize a sua formação (já disse isso).
6. Busque formação contínua, mas tome cuidado. Há alguns duvidosos, como "o que é preciso para entrar no mercado de didáticos" ou "Que tipo de profissional o mercado de didáticos procura". Na visão de quem? De quem vai ministrar o curso, enviesado pelas regras e estruturas da empresa em que a pessoa trabalha? Compreende? Fuja desse tipo de curso, é furada. Aliás, cursos de formação existem diversos, mas você já percebeu que raros são voltados para o mercado de didáticos?
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7. Seja curioso, todos os dias. E não tenha receio de dizer que não sabe, mesmo que te olhem estranhamente. Só assim se aprende. Melhor admitir que não sabe algo que tentar fazer e receber a culpa depois pelos problemas que podem surgir. Leia sempre! Todos os dias, sem falha, faça disso uma prática a ponto de se tornar algo natural assim como respirar.
8. Aprenda sobre o material do segmento em que trabalha. Se trabalha com sistemas de ensino, aprenda sobre isso, se trabalha com PNLD, leia os editais, são chatos, sabemos, mas necessários para a boa edição, aprenda mais sobre linguagem direta, aperfeiçoe o português (e mesmo assim, errarás, hahahaha. Eu erro sempre, caso contrário, não sou eu).
9. Faça diversas revisões em toda forma de escrita (apesar de a gente correr enquanto escreve ou escrever enquanto corre, hahahaha). Brincadeira à parte, essa prática, a de escrever com pressa, “correndo”, jamais - JAMAIS - deve fazer parte de sua rotina profissional, principalmente se trabalha com materiais educacionais. Pior ainda se for PNLD, em que qualquer deslize reprova a obra. Revisão nunca é demais. Ler o texto em voz alta (faço isso feito louco, meus vizinhos já se acostumaram), perceber a cadência, notar se flui, se alguma palavra soa estranha, tudo isso ajuda.
10. Não siga o meu exemplo nesse post, não seja prolixo. (e evite começar parágrafo com não, hahaha.) Seja direto, claro, principalmente se o material didático ou literário que estiver editando for para a garotada. Nos primeiros anos do fundamental é uma exigência usar frases na ordem direta: sujeito – verbo – complemento.
11. Desconfie sempre do que escreveu ou leu. E sempre pense que o outro, o estudante, o leitor, pode não conhecer aquele termo que você adora usar. Simplicidade não é mar raso, da mesma forma que palavras rebuscadas não significam profundidade de análise.
Eita!!! Escrevi demais.
Desculpe-me. Editar e edição são paixões, (re)movem poeira e (re)viram livros.
Vanderlei, quanta sensibilidade! Nem sabia que precisava ler essas palavras, mas me senti profundamente acolhida. Infelizmente é raro encontrar profissionais mais experientes dispostos a ensinar, com calma, os recém-formados ou ainda estudantes. Muito bom poder trocar essas experiências e reflexões, obrigada por compartilhar!
Assistente Editorial | Revisor de Texto | Fantasia, Ficção Científica e Terror | Edição para Autores Independentes
3 mGostei do texto e da boa reflexão, obrigado pelo artigo.