DIFICULDADES EM REPROGRAMAR O PASSADO DO MEU CORAÇÃO.
A recente partida do inigualável Rolando Boldrin, levou muitos de nós a relembrarmos momentos icônicos da TV, entre “causos”, poemas e musicas apresentadas pelo verdadeiro mestre da cultura brasileira.
Numa dessas saudosas “buscas”, encontrei uma prosa deliciosa entre Boldrin e João Bosco, falando de Noel Rosa, entre outros.
E o excepcional violonista encerra o vídeo cantando sua maravilhosa “O Bêbado e o Equilibrista” numa performance apaixonante, com a plateia cantando em uníssono.
Como não se emocionar?
Fui ouvindo ...ouvindo ...lembrando de Elis ...
Aquela garra no canto dela...sua morte abrupta e eis que no trecho “que sonha com a volta do irmão do Henfil” , minha mente automaticamente buscou o sentimento que assolava nossos corações naqueles anos 80, por conta dos exilados.
Repentinamente “travei” nesse momento, pois mente e coração entraram num CONFLITO... quase uma guerra.
Afinal é o sentimento que VIVENCIO HOJE.
Procurei ordenas as emoções ... mas tive dificuldades.
Pois o jornalista Allan dos Santos, segue exilado nos EUA , contudo numa situação muito pior, pois está escondido, e isto me remete ao presente e não ao passado.
E mais ... cerceado no direito de lutar pela subsistência, afinal suas contas foram banidas das redes sociais pelo STF, ou seja foi muito mais do que desmonetizado, não tem plataformas onde possa expor seu trabalho.
Soubemos inclusive que esposa e filho, seguem no Brasil com extrema dificuldades, afinal o menor é portador de algum tipo de doença (desconheço detalhes), mas que requer recursos econômicos e atenção especiais.
Fiquei imaginando a DOR do pai, escondido no exterior, sem poder ver o filho, certamente com celulares grampeados, e forçado a “se virar” no exterior neste cenário de infortúnios.
Quando me dei conta dos pensamentos que me assolavam a mente, João Bosco havia terminado a canção.
Que droga, fugiu aquela emoção deliciosa.
Reinicio ou não o vídeo?
Tento resgatar a emoção?
Fiquei em total parafuso, pois a dor do passado pela distância do exilado Betinho (irmão do Henfil na canção), está alojada num departamento um tanto quanto “poético” do meu coração.
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Betinho foi “convidado” a se retirar do Brasil e sentíamos desconforto com isso naquela época.
Claro que exílio é um excrescência, mas pelo menos ele podia ver amigos quando lá estavam, e tampouco vivia escondido como um rato.
Já a dor atual por Allan dos Santos, é muito maior, e REAL.
Ela nada tem de “romântica” ou “artística”, como Caetano fazendo London, London.
É nua e crua.
Aquela dor que fere de verdade, semelhante aquelas de uma doença que assola um parente ou amigo querido.
Minha raiva por essa gente que tem no seu cotidiano o “objetivo” de levar a dor aos outros, sem nenhuma cerimônia, transbordou , escorrendo da parte menos nobre da alma.
Pois é.
Além dessa gente estragar meus sentimentos do presente, estão até conseguindo algo INDÉDITO, estragarem sentimentos do passado.
Pô , tá certo isso ?
Como devo “agora”, encarar o passado ?
Tenho que reprogramar meu sentimento construindo e VIVIDO HÁ 40 ANOS?
Há violação na MINHA VIDA maior que esta ?
Resolvi fugir do dilema ...por ora.
Fui ouvir Paul McCartney, assim essa gente não conseguirá estragar de jeito nenhum, meu amor pelos Beatles, tampouco mancharem minhas saudades juvenis daqueles tempos, que permanecerão inalteradas.
“Yesterday, All my troubles seemed so far away”
ROBERTO MANGRAVITI