Escrevendo Cartas

Escrevendo Cartas

Há uma recorrente parábola corporativa que fala sobre as 3 cartas enviadas por um Diretor ao seu substituto dentro da empresa.

Para quem não a conhece, e muito resumidamente, essa estória diz que um antigo executivo, quando desligado de sua empresa e substituído, entregou 3 envelopes ao novo diretor com a orientação de que, a cada crise que ele enfrentasse dentro da organização, abrisse uma das cartas e ali ele teria a resposta para sair de sua situação desafiadora.

Dito e feito: ao confrontar a primeira complicação, o executivo fez o indicado e no bilhete estava escrito “culpe a gestão anterior”. Ele seguiu a orientação e tudo deu certo, até que veio a segunda crise e, com ela, a segunda carta. “Culpe o mercado”, ela dizia, e assim foi. No entanto, e uma vez mais, um momento turbulento bateu a porta do diretor que, ao abrir o último envelope, encontrou uma simples frase selando o seu destino naquele momento:

“Escreva três cartas”

A reflexão que se faz disso tudo é que – e sem demagogias demais – os profissionais tendem muito frequentemente a “terceirizar” a responsabilidade dos fracassos, desde os menores até as grandes crises. Claro, existem crises de mercado, gestões anteriores ruins, estruturas empresariais arcaicas e muitos outros problemas. Mas, e acima disso tudo, existem os erros e a dificuldade que temos muitas vezes em admiti-los. E, com isso, a cegueira que se instaura muito facilmente sobre aquilo em que somos bons e onde precisamos definitivamente melhorar.

Cada vez mais, e diante de tantas novas tecnologias à nossa disposição, a capacidade de pensar e decidir transformou-se em ferramenta essencial das organizações. As empresas estão buscando recorrentemente por profissionais “empoderáveis”, para quem seja possível delegar responsabilidades cada vez maiores. E dentro deste contexto, acaba tornando-se essencial o exercício de cada uma dessas pessoas de conhecerem a si mesmos e suas potencialidades. Obviamente o RH está aí para ajudar as organizações e seus colaboradores, mas se as pessoas não são capazes de admitir – ou mesmo de enxergar – quem elas são, elas inexoravelmente vão ter imensos gaps sobre como elas se veem e como são vistas na prática.

"Cada vez mais, e diante de tantas novas tecnologias à nossa disposição, a capacidade de pensar e decidir transformou-se em ferramenta essencial das organizações."

Nesse novo contexto, em que se busca por pessoas que genuinamente conheçam as suas limitações e com elas, e de forma igualmente genuína, as suas virtudes, o exercício de ver “o que eu não sei fazer”, “quem eu não sou” e “o que não se pode esperar de mim” se torna como algo essencial. Seja para desenvolver as pessoas nessas habilidades – afinal existe o talento nato e o conhecimento apreendido – seja para saber onde esse profissional se encaixa, as empresas buscam por esta clareza para terem ciência do que é possível atribuir e/ou esperar de alguém – e também do que não é, pelo menos em um primeiro momento.

A pergunta que fica de toda essa reflexão, a meu ver, é: você tem visto onde está errando? Com que frequência tem exercitado sua autocrítica? Você sabe quem é – e quem não é?

Não apenas as empresas, mas a vida vai te cobrar disso. E se você não tiver essa resposta, cedo ou tarde, e talvez mais do que apenas uma vez, há uma grande chance de você precisar escrever três cartas.

Bruno Paggiossi

Account Manager | Sales | Event planning | Sponsorship

8 a

Parabéns Sr. Serra, muito bom texto! Sem dúvidas foi uma das coisas que mais procurei fazer nos últimos anos. Enxergar meus erros e limitações, descobrir quais pontos precisam ser melhorados e mudar o panorama, não só profissional como pessoal. Seu texto diz tudo, "a vida vai te cobrar disso".

Roberto Roche

ESG I Sustainability I CSR I M&A Due diligence I Social Environmental risk analysis I Keynote Speaker

8 a

Excelente

Parabéns Paulo. Excelente reflexão.

Yve Tonon

Produção e organização de eventos corporativos | Especialista em eventos para S&OP, Procurement, Supply Chain, Operações, Contratos e Compras

8 a

Eu escrevo cartas todos os dias. Cartas para mim mesma, para registrar os meus aprendizados, meus erros e para saber que existe sempre a oportunidade de construir uma nova estória, reconstruindo a si mesmo. Paulo, adorei seu texto, o seu dom com as palavras foi a primeira coisa que saltou aos meus olhos quando nos conhecemos. Um grande abraço, Yve

Andre Laurenti Ramos

Sócio-Diretor Executivo at Blue Ocean Business Events

8 a

Excelente Paulo! Parabéns pelo texto.

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