"Eu vejo um museu de grandes novidades"​

"Eu vejo um museu de grandes novidades"

O ano era 1985. Empresa: General Motors.

O então CEO Roger Smith estava tão ansioso pelo futuro, querendo tanto que a GM fosse uma empresa do ano do 2000, que mesmo depois do fracasso do Projeto Saturno (que consumiu US$5 bilhões) e buscando blindar a GM do combo flutuações do mercado automotivo + "invasão" (era assim que ele encarava a concorrência) japonesa na indústria, propôs a compra da Hughes Aircraft Company. Segundo Smith, a compra abriria outros mercados como o de defesa, eletrônica e indústria aeroespacial.

Deu ruim? Deu.

Deu ruim porque a cultura da GM era de olhar pro próprio ego em vez de olhar pro cliente. Deu ruim porque em vez de fazer a concorrência de benchmarking, a GM fez da concorrência seu algoz. Deu ruim porque a GM não tinha um propósito com os seus colaboradores e sim CONTRA os seus colaboradores. E os colaboradores, por sua vez, não buscavam unir forças com a automação e sim CONTRA a automação. Enfim... foi uma cascata de desastres que quase levou a GM pro buraco.

Mas o que eu quero aqui é mostrar como a vida é um museu de grandes novidades. 

Eu sou fã do Elon Musk. Muito. O cara tem MUITA coragem. É MUITO audaz e confia no que faz. Mas no que tange às habilidades de relacionamento, nunca foi muito bom. (Como, aliás, boa parte dos empreendedores da sua safra. Exemplo: Jeff Bezos.)

Então quando ele fala na reportagem abaixo em cortar salários, claramente nota-se que o benchmarking com a indústria que automotiva só foi feito parcialmente.

Uma empresa pode cortar custos de várias outras formas sem ter que mexer com os funcionários. A Toyota provou isso quando foi forçada a ser lucrativa numa época em que não podia demitir NINGUÉM. E foi daí que surgiu o conceito de manufatura enxuta. Eles tinham que fazer MUITO com o que tinham.

A equipe de Tesla é, indiscutivelmente, uma das equipes mais inteligentes (dá pra dizer assim?) do mundo. Os melhores cérebros querem trabalhar na empresa e o fariam até de graça só para orbitar o planeta Musk. Mas um dia essa euforia acaba. Entra o ritmo alucinante de trabalho, a altíssima carga de responsabilidade e um nível de renúncia que beira a devoção fundamentalista. O mínimo que se espera em troca é um ordenado capaz de recompensar tamanha dedicação.

O finado projeto Saturno trouxe ao consumidor o desejo pela tecnologia de ponta a um custo acessível. Trinta anos depois Elon Musk realizou o sonho de Roger Smith e, de uma forma ou de outra, integrou a indústria automotiva com a aeroespacial. A tecnologia presente nos automóveis da Tesla é a mesma dos foguetes da SpaceX – e me arrisco a dizer que até alguns componentes podem ser comuns, o que gera uma economia de escala.

A história se repete e dessa vez com uma enorme chance de sucesso.

Desde que não se confunda inteligência com consciência e que não seja relegado ao segundo plano o principal interessado em toda essa inovação: o ser humano.

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