HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS PÓS PANDEMIA - POR ONDE COMEÇAR?
Por: Gisele Vitório
O retorno às escolas após 2 anos de aulas on-line ou híbridas trouxe muitas defasagens na aprendizagem dos alunos, o que já era esperado e estudado por educadores de todo o mundo. O que surpreendeu a alguns, no entanto, é o fator socioemocional, que se demonstrou extremamente necessário na formação das crianças e adolescentes e que sofreu prejuízos incontáveis com o isolamento social e que agora, afeta inclusive, a aprendizagem de conteúdos.
Fez-se ainda mais urgente estudarmos, aprendermos e aplicarmos a educação socioemocional nas escolas, com foco no desenvolvimento das habilidades de relacionamento dos alunos, mas nós, professores também estamos necessitados de aprender e desenvolver as habilidades socioemocionais em nossas vidas. Assim, as habilidades socioemocionais tornaram-se protagonistas de um processo que precisa ser iniciado para retomada da vida “normal”.
A promoção do autoconhecimento e protagonismo de nossas vidas, como pede a BNCC ou a construção de valor e responsabilidade ética em sociedade são desafios que requerem de toda a comunidade escolar um exercício de apoio mútuo e de acolhimento, ainda mais, em um cenário em que alunos e professores foram muito mais cobrados e ao mesmo tempo, desestimulados. E a pergunta que surge é: Por onde devemos começar?
Devemos iniciar pelo diálogo, pelas rodas de conversa na sala de aula, estimulando os alunos a falar sobre seus sentimentos e emoções, conforme cada etapa de desenvolvimento e maturidade dos alunos. Abaixo, uma breve explicação por segmento:
· Na Educação Infantil, é importante ensiná-los a nomear o que estão sentindo, propor atividades em duplas ou grupos e desenvolver atividades que promovam a cooperação. É ainda uma etapa muito importante para o desenvolvimento do afeto, assim, é interessante estimular atividades que promovam a amizade e o vínculo entre os alunos.
· Nos Anos Iniciais do ensino fundamental é importante que além de nomear, os alunos saibam gerenciar essas emoções, controlando seus impulsos emocionais. Atividades que os ensinem a lidar com suas próprias frustrações, que os ensinem a ganhar ou perder, como por exemplo, jogos de tabuleiro ou brincadeiras podem ajudar. É o período que os alunos criam vínculos mais fortes e, portanto, ações que promovam a união e o trabalho em equipe, podem ajudar a ampliar as habilidades socioemocionais. Também é importante reforçar atitudes e posturas éticas, para fortalecer a inteireza socioemocional dos alunos.
· Nos Anos Finais, o maior desafio é que os alunos se abram, exponham suas fragilidades, assim, é importante, mostrar aos alunos que as vulnerabilidades existem e podem ser dialogadas. Também é uma fase de muitas mudanças hormonais e até mesmo do desenvolvimento cerebral, assim, é importante, que os alunos aprendam a desenvolver a consciência sobre o que sentem e sobre as decisões tomadas sobre o que sentem. Atividades como rodas de conversa, propostas que desenvolvam a oportunidade de se colocar no lugar do outro e de expor seus sentimentos são muito bem-vindas nesta etapa da vida.
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· No Ensino Médio, é importante que os alunos consigam ter equilíbrio emocional para as escolhas que farão, sem afetar-se pelas influências ao seu redor, criando de fato, o seu protagonismo, de forma segura. É importante considerar nesta fase o projeto de vida de cada aluno, que deve perpassar pelos campos pessoal, social e profissional. Assim, atividades que promovam a reflexão e a internalização sobre as habilidades socioemocionais e como estas podem ajudar a alcançar o que almejam devem ser pensadas para essa fase. Um bom exemplo é criar uma linha do tempo da vida de cada aluno, com datas marcantes e que demonstram o desenvolvimento individual.
Para o fortalecimento das habilidades socioemocionais é importante que o professor se coloque nesse processo de desenvolvimento, identificando pontos de melhoria na sua própria educação socioemocional. E um exercício rápido para estimular o professor é pensar em uma emoção do seu dia, o que sentiu, o que fez e em seguida analisar se poderia ter feito de outra maneira, se poderia ter sentido de outra forma e se passasse pela sensação novamente, quais seriam suas atitudes. Quando esse exercício de reflexão é promovido também ao professor, o desenvolvimento socioemocional é mais humano e mais coerente na troca entre aluno e professor.
É importante ressaltar ainda que a educação socioemocional deve ser trabalhada nas famílias também, propiciando um ambiente de diálogo, acolhimento e abertura aos filhos, elementos essenciais para a construção e fortalecimento socioemocional dos alunos. Para isso, a escola pode promover reuniões com os pais, discutindo práticas socioemocionais em casa, palestras ou encontros com psicólogos e orientadores educacionais e promover nas redes sociais ou mesmo por bilhetes desafios de afeto e ampliação de vínculo entre as famílias.
Por fim, é importante considerar que as habilidades socioemocionais são capacidades individuais que despontam na maneira de pensar, sentir e agir seja por comportamentos ou atitudes consigo e com os que estão ao seu redor, assim, em um retorno pós pandemia, é preciso exercitar todas as nossas capacidades e entender que o isolamento social nos deixou impactos, portanto, é preciso retomar o desenvolvimento com paciência e parceria de toda a comunidade escolar, para alcançar, a competência que os alunos e todos nós, precisamos ter.
Referências:
Instituto Ayrton Senna. Competências socioemocionais para contextos de crise. Disponível em: institutoayrtonsenna.org.br/pt-br/socioemocionais-para-crises.html?utm_source=site&utm_medium=hub-botao-2206#o-que-sao-competencias-socioemocionais
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.