HOMESCHOOLING: A FAVOR OU CONTRA?
Maria Olívia Garcia
Há tempos já abordei este assunto, mas como o STF decidiu, em setembro de 2018, que os pais não poderiam tirar os filhos da escola para ensiná-los em casa, abandonei o tema.
No entanto, agora está para ser discutida no Congresso Nacional a lei que aprova esse tipo de ensino, portanto é oportuno o retorno às questões: quem defende o homeschooling? No Brasil dará certo? Como ficarão os professores diante do esvaziamento das escolas?
Muitas famílias brasileiras já têm optado por educar seus filhos em casa e, segundo a ANED (Associação Nacional de Educação Domiciliar), até 2016 três mil famílias aderiram a esse tipo de ensino que cresceu 516% entre 2011 e 2016. As últimas pesquisas indicam que já existem 15 mil alunos nessa modalidade que, no entanto, ainda não está legalizada no país.
ENTENDENDO O HOMESCHOOLING
Essa Educação Domiciliar ocorre quando os pais assumem totalmente o controle do processo global de educação dos filhos. A partir do momento em que a escola se tornou obrigatória, os papéis foram divididos: ensinar valores, costumes, hábitos, moral e crenças ficou para os pais e a instrução formal ficou a cargo das escolas. Os pais, então, delegaram essa parte da educação dos filhos a profissionais que supostamente estariam mais capacitados para esse tipo de ensino, ou seja, terceirizaram essa parte da educação das crianças.
Na Educação Domiciliar, os pais retomam como antigamente a direção e a responsabilidade pelo processo de ensino-aprendizagem dos seus rebentos. Como passa a ser essa educação?
Em primeiro lugar, integral: os pais se responsabilizam por todos os aspectos da educação dos filhos, como valores, condutas, formação do caráter, questões afetivas e ainda a instrução formal, que normalmente fica a cargo da escola.
Além de integral, é uma educação sem interrupções, ocorre o tempo todo, mesmo que haja um período do dia específico para os estudos. Tudo pode ser oportunidade para aprender: se está na cozinha fazendo um bolo, se está na rua, passando por um monumento histórico, ou observando plantas e pássaros, ou ainda passa por um movimento de protesto, enfim, basta um questionamento e as portas se abrem para um novo aprendizado. Embora chamada de “domiciliar”, na verdade ela ocorre na rua, em museus, em cinemas, em praças, em igrejas, etc.
Essa modalidade é um treino para o aprendizado, pois desenvolve o intelecto, forma habilidades, auxilia o equilíbrio emocional, a sociabilidade mais ampla, com sujeitos de todas as idades; a espiritualidade, preserva os princípios morais da família, etc.
Por que tem sido procurada? Os pais que a defendem e optam por ela entendem que a educação formal está vinculada a outras dimensões do processo educativo, além da aquisição de conteúdo, podendo ser melhor realizada onde o indivíduo terá melhor suporte pedagógico, emocional e disciplina, indispensáveis a uma formação integral.
Outro motivo dado pelos pais é a insatisfação com a qualidade do ensino escolar, com um padrão massificado de aprendizagem, pela presença da violência na escola, que gera insegurança e exposição dos filhos a amizades indesejadas; discordância quanto à postura de alguns professores e o desejo de oferecer uma educação de qualidade para os filhos, explorando ao máximo o potencial deles.
Ainda conforme a ANED, a educação domiciliar proporciona maior amadurecimento, desenvolve a disciplina de estudo, o gosto pelo aprendizado, permite a criação de novas estratégias de aprendizado, produz adultos seguros e com autoestima sólida, favorece o empreendedorismo e gera excelentes resultados acadêmicos.
Essa associação alega também que na educação domiciliar os filhos ficam resguardados de pressões sociais inadequadas, da privação do convívio familiar, do retardo do processo de aprendizagem, da passividade no processo de aprendizagem e do desinteresse por aprender.
Mas há que se considerar: para a maioria dos pais é uma tarefa bem mais difícil do que parece, pois devem se revezar em tempo integral e precisam também dominar as várias disciplinas que em muitas escolas são trabalhadas com professores especialistas.
Bem, corro o risco de ser julgada aqui como defensora do homeschooling e de ser condenada pelos colegas, por isso esclareço que não estou defendendo que a criança saia da escola, apenas tento analisar a questão e refletir sobre qual deva ser o posicionamento do professor diante desse fato inevitável e que infelizmente ampliará o abismo entre as classes sociais neste país, pois apenas a elite (financeira ou intelectual) lançará mão desse recurso.
Quando veio a televisão, muitas foram as críticas a ela em relação à dispersão dos alunos, assim como ocorreu com a internet e com o celular. Mas a educação domiciliar irá trazer um novo papel para o professor: o de tutor, de responsável pela aprendizagem global da criança, uma vez que serão poucos os pais que conseguirão cumprir essa tarefa sem o auxílio de um professor!
Mas não basta fazer uma licenciatura para se tornar um tutor, é preciso muito conhecimento, capacidade de filtrar a avalanche de informações para selecionar o que é importante e dominar o maior número possível de áreas do conhecimento, porque este será um profissional polivalente e de grande competência. Como o número destes profissionais extremamente capacitados tende a ser reduzido, os rendimentos poderão ser elevados. Quem aceitar o desafio com certeza terá uma trajetória fascinante. Fica a ideia.