Na vida e na carreira, seja humilde

Na vida e na carreira, seja humilde

Se eu pudesse dar apenas um conselho para alguém que está em começo de carreira, eu não teria dúvidas. Seria: seja humilde sempre.

Na verdade, esse é um hack que vale para a vida, muito além da profissional.

Acontece que quando a gente está em boa fase, com crescimento e tudo dando certo, a tendência é baixar a guarda e esquecer dos altos e baixos do processo. As pessoas nos inflam. Nosso cérebro nos prega peças (vou contar sobre um viés cognitivo bem interessante mais para frente nesse texto). É fácil achar que a gente já sabe tudo.

Por isso, é preciso ser vigilante. Eu tinha um chefe na Whirlpool que dizia: 

"Você nunca é tão bom quanto as pessoas dizem quando tudo dá certo, nem tão ruim quanto as pessoas dizem quando tudo dá errado"

Eu concordo plenamente. Confesso que já tive momentos em que deixei a humildade de lado. E foram neles que errei e tive que retroceder no caminho. E com esses tropeços, aprendi a manter os pés no chão e sempre tento me lembrar de que estou apenas começando. E isso é o mais importante.

Na edição #10 da newsletter Hacks da Vida Corporativa, eu trago teorias e uma boa história sobre ela, a humildade.

Se conhecimento é poder, saber o que não sabemos é sabedoria

Essa frase é do psicólogo Adam Grant, no livro Pense de Novo. Na obra, ele argumenta que pessoas que se mantêm humildes conseguem repensar suas crenças e, por isso, acabam crescendo mais.

Ele ressalta algo importante: ser humilde não é ter baixa autoconfiança. Muito pelo contrário. Ser humilde é reconhecer suas falhas, o que requer acreditar em si mesmo. O ponto é confiar em sua capacidade de conquistar algo, mas manter o questionamento sobre as ferramentas escolhidas – e saber abandoná-las quando necessário.

Efeito Dunning-Kruger

ilustração em preto e branco de um gráfico do Efeito Dunnig-Kruger, que faz a relação entre confiança e experiência e como as pessoas se sentem no processo. No começo, vem o pico da estupidez, depois o vale do desespero, seguido do aclive da iluminação e, por fim, do platô da produtividade.


Certamente você já trabalhou com alguém que pouco sabia, mas achava que era expert em muitos assuntos. Essas figuras são comuns e até explicadas pela ciência.

Em 1999, os psicólogos americanos David Alan Dunning e Justin Kruger publicaram um estudo sobre um viés cognitivo – que ficou conhecido como Efeito Dunning-Kruger - que faz com que pessoas com conhecimento raso sobre um assunto superestimem o que sabem. Por outro lado, pessoas com muito conhecimento subestimam suas habilidades.

Esses comportamentos são explicados pela consciência da complexidade envolvida: quando sabemos pouco de algo, não entendemos sua complexidade e podemos ter a ilusão de que dominamos o assunto; mas quanto mais estudamos determinada matéria, mais percebemos como é complexo e como estamos longe de saber tudo.

No livro Outliers, Malcolm Gladwell chegou à conclusão que experts precisam de, pelo menos, 10 mil horas de experiências – o que dá 8 horas por dia, todos os dias por 4 anos.

Em tempos de “fail fast”, “test & learn” e “MVPs”, essa declaração ficou polêmica, porque desincentivaria empreendedores e startupeiros. E a ideia de que se aprende no caminho, não na sala de aula. Concordo com as duas vertentes, e não acho que sejam antagônicas. Não precisamos saber tudo para começar, mas quem já tem experiência acaba sendo muito mais produtivo.

É preciso gastar sola de sapato para entender verdadeiramente de algo. Definitivamente, não é do dia para a noite. E pessoas sábias de verdade aprendem a vida inteira.

“Lembra-te que és mortal”

Ilustração em preto e branco sobre Roma Antiga. Aparecem um general, com vestimentas características, e um escravo, como na história contada a seguir.

Para terminar, uma boa história vinda diretamente da Roma Antiga.

Por lá, a expressão “Lembra-te que és mortal” - em latim “Memento Mori” - era muito usada para lembrar os generais que voltavam vitoriosos das batalhas de que eles não eram melhores do que ninguém.

Funcionava assim: depois da vitória, os generais eram colocados em cima de bigas, que são carros abertos puxados por cavalos, para irem até o Senado receber honrarias. Roma parava para aclamar calorosamente o general. Logo atrás da biga, um escravo acompanhava o cortejo. A cada 500 jardas percorridas, a biga parava. O escravo subia e sussurrava ao pé do ouvido do general: “Memento mori”. E isso se repetida por quilômetros, até ele receber das mãos do Senado uma bandeja de prata com uma folha de palmeira – honraria que deu origem à expressão “salva de palmas”.

Essa era a maneira de lembrar aos vitoriosos que era preciso manter os pés no chão.

Conheci essa história há cerca de 20 anos, contada pelo filósofo Mario Sérgio Cortella, em uma palestra que fazia parte do programa de formação de lideranças da Atlas Schindler.

Nunca vou esquecer, pois o recado me caiu como uma luva na época. Eu era analista e fui um dos 25 escolhidos – entre mais de 4 mil funcionários - para participar do treinamento por causa do meu desempenho e potencial de crescer. Era o mais novo e o com o cargo mais baixo. Me sentia muito orgulhoso, no meio da nata.

Cortella começou a palestra dizendo que éramos o “Crème de la Crème” da empresa, os talentos. E depois veio com a história do “Lembra-te que és mortal”. Certamente, foi um choque de realidade – muito bem calculado pelo filósofo - para todo mundo que estava lá.

Levando a humildade vida afora

Na minha opinião, ter humildade é sempre positivo. Depois de tantos anos de carreira, posso dizer: sempre se dê valor, mas esteja aberto a aprender. E os aprendizados virão de todos os lados. Dos antigos de casa. Dos novos funcionários. Dos consultores. Do consumidor do seu produto ou serviço. E, claro, dos mentores e professores.

Ser humilde em relação ao aprendizado é um exercício diário e eu tento me exercitar: leio entre 10 a 20 livros por ano, faço 2 a 3 cursos livres, muitas vezes na minha área de atuação, e atualmente estou fazendo pós no ISE/IESE. E garanto que sempre aprendo algo novo.

O grande desafio é ficar atento às armadilhas do Ego, e, se cair na tentação de achar que já sabe tudo, acione a voz interna, como um mantra: “Não esqueces que tu és Mortal".

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Até mais!

Abraços

Verdade. infelizmente as pessoas esquecem que até a vida é transitória

Samuel Munhoz

Senior Sales Executive - Enterprise & Global Accounts

2 a

Vitor Bertoncini parabéns por manter essa newsletter sempre atualizada e com conteúdo realmente relevante. Essa dica da humildade é algo que aprendi com a vida e quando momentaneamente a "esqueci", tive o resultado. Creio que o importante para nós seres humanos seja a capacidade reconhecer nossas próprias falhas e pra isso é necessário humildade e como eu sempre digo, aprendizagem é algo que não se conclui. Excelente texto! Parabéns.

Vinícius Rizzo

Business Operations @ Culligan International | Business Administration and Management

2 a

Vitor Bertoncini , ler sua newsletter me lembra de várias discussões na época em que foi meu mentor, e que tem feito toda a diferença para mim! Grande abraço!

Silvia OSSO

Especialista em Varejo | Mentora | Palestrante | Escritora | Consultoria em Atendimento ao Cliente e Vendas | Treinamentos Corporativos | Já treinei mais de 70 mil farmácias

2 a

UAU!!! Adorei!

Renato Cassou

Diretor de Vendas / Mentor /Palestrante

2 a

Belo texto Vitão. 

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