O Hábito da Preocupação: Cinco Estratégias para Neutralizá-lo

O Hábito da Preocupação: Cinco Estratégias para Neutralizá-lo

Preocupar-se pode se tornar um hábito? Sim. Qualquer coisa que fazemos repetidas vezes fica registrada em nosso cérebro, criando um caminho neural que leva à repetição.

Existe uma raiz para a preocupação em nosso cérebro? Sim. Nosso cérebro tem uma tendência natural a vislumbrar ameaças, com o objetivo de proteção. Essa capacidade surgiu ao longo do desenvolvimento de nosso cérebro, e graças a ela chegamos até aqui em nossa evolução como raça humana.

Em tempos remotos de nossa evolução, era fundamental perceber ou mapear ameaças de onças e cobras, por exemplo. Não era nada proveitoso perceber e admirar um nascer ou pôr do sol.

Mesmo hoje, quando nosso cérebro já possui maior capacidade de percepção, lógica e estratégia, ainda é forte a atuação e influência de nosso cérebro mais primitivo. Nesse sentido, a preocupação estaria a serviço da prevenção de riscos, porque nosso cérebro está o tempo todo mapeando o que pode ser perigo. 

Porém, com o desenvolvimento do cérebro e o surgimento da consciência autorreflexiva, temos instrumental para lidar com situações de desafio, risco e ameaça de forma mais eficaz do que ficar produzindo e remoendo pensamentos que nos põem em estado de alerta e tensão, nublando nossa percepção e nossa capacidade de lógica e estratégia. 

ALTERANDO PERCEPÇÃO E FISIOLOGIA

Como diz o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi em seu livro Flow – A psicologia do alto desempenho e da felicidade, “nenhum outro animal além do homem está em posição de ser a causa do próprio sofrimento”. E sabemos que produzimos essa causa, mais do que qualquer outra, com nosso pensamento e nossa imaginação, que têm o poder de alterar nossa percepção e fisiologia – em fração de segundos. 

Adquirimos muitos hábitos. Alguns, produtivos, elevam nossa energia, ativando nossa potencialidade. Outros, negativos, consomem nossa energia, tiram nossa sensação de poder e diminuem nossa concentração e capacidade de resolver problemas. 

O hábito negativo no qual quero focar aqui é o de se preocupar.

Quando estamos preocupados com alguma coisa, tendemos a pensar demais sobre ela e ficamos presos em um círculo, correndo atrás do próprio rabo. A experiência mostra que isso não resolve. Mas, por tornar-se um hábito, nós repetimos, mesmo sabendo que não resolve.  E muitas vezes ruminamos compulsivamente. Ficamos presos na impossibilidade

Todos nós experimentamos preocupações e desconfortos internos. Isso faz parte de nossa condição interna. As pessoas felizes experimentam o mesmo. Qual é a diferença entre essas pessoas e aquelas que não se julgam felizes ou se sentem menos escolhidas pela sorte? A diferença está em por quanto tempo permanecemos presos nesse círculo de pensamentos negativos. 

Recentemente, assisti a um vídeo com o tenista Novak Djokovic em que lhe perguntam se ele já experimentou medo ou insegurança. Djoko responde que experimenta emoções como qualquer ser humano, e que considera impossível não as experimentar. Explica que, para ele, a questão é quanto tempo levará para se livrar de emoções negativas e retomar o controle consciente e intencional sobre si mesmo. 

INTERROMPENDO O CÍRCULO 

Como o foco na preocupação tem uma raiz em nossa estrutura neurológica primitiva, faz-se necessário ter uma intenção consciente de mudança de foco para mudar isso. Existem estratégias para ir desativando essa tendência ou hábito? Sim. Vamos analisar algumas que tenho aprendido e usado.

Primeira estratégia: Assim que você perceber que o pensamento preocupante começa se repetir, estabelecendo um círculo, faça um esforço para interrompê-lo. Atenção, porque frequentemente pensamos em continuar nesse pensamento porque sentimos que vamos chegar a alguma conclusão. Isso é ilusão. O pensamento seguirá seu ciclo ruminante. 

Uma forma rápida de interrompê-lo é através do corpo, alterando a fisiologia. Mova o corpo de alguma forma: faça um exercício, levante-se, caminhe, corra, pule, sacuda o corpo, ponha uma música e dance, faça uma arrumação nas gavetas. O objetivo aqui é deslocar a mente de onde ela está presa. Interferir no pensar através do movimento do corpo.

Segunda estratégia: Dê a si mesmo um tempo para pensar sobre a preocupação que domina seu pensamento. Defina esse tempo – cinco ou dez minutos no máximo. Marque o tempo num alarme de relógio. Quando o alarme soar, diga: Agora chega! De preferência, diga em voz alta, escutando a própria voz. E leve sua mente para outro foco. Se quiser, anote o que refletiu. E ponto final. Vá fazer outra coisa. 

A mente tenderá a fazer nova tentativa de pôr a preocupação em sua tela. Fará isso porque é um hábito, e não porque tem uma solução mágica. Se isso acontecer, fale novamente para si mesmo: Acabou o tempo! 

Terceira estratégia: Às vezes, a preocupação surge à noite, ou de madrugada. Conhece isso? Há uma estratégia que funciona para mim, porque gosto de planejar e fazer listas para direcionar minha ação. Quando sinto que o pensamento preocupante, imaginário e compulsivo me capturou e o sofrimento mental começou, penso: 

Bem, o que posso fazer a respeito em primeiro lugar, em segundo lugar, em terceiro...

Faço mentalmente uma listinha de ações estratégicas. Com isso, saio do pensamento circular e vou para um pensamento linear em que sinto que adquiro algum controle sobre a situação. Revejo mentalmente a listinha com o objetivo de memorizá-la e me lembrar dela pela manhã. 

Mas já aconteceu, várias vezes, de me levantar para escrever a lista e só então poder voltar a dormir. O objetivo fundamental nessa estratégia é sair do movimento circular e adquirir algum controle. Isso diminui bastante a ansiedade, e põe tudo em um lugar de realidade

Quarta estratégia: Quando temos pensamentos ruminantes, todo o foco está no negativo, no problema, na falta de possibilidade, em nossas fragilidades e inabilidades. Nós nos sentimos péssimos. Nessa estratégia, usamos a genialidade do “E”. 

Frequentemente, estamos sob o “domínio do “OU”. Tudo está bem, ou tudo está ruim. O gênio do “E” nos faz perceber o que não está bem e o que está bem, porque os dois estão juntos, constantemente em dinâmica. Precisamos perceber ambos. 

Nessa estratégia, quando você perceber que está sendo tomado pela negatividade, não a negue, nem a rejeite. Em vez disso, pergunte: Quais são as outras coisas que também estão acontecendo, ou que tenho, que são boas? Essa pergunta neutraliza o poder da negatividade na mente, podendo mudar nossa percepção e nossa emocionalidade.

Quinta estratégia: Podemos usar o princípio do “COMO SE”, aproveitando que nosso cérebro não distingue o que é realidade do que é imaginado. 

Quando você se sentir atormentado por ruminações negativas que lhe põem em sua pior versão e em sofrimento, que mudam sua respiração, encolhem seus ombros, fecham seu peito e contraem seu rosto, pergunte-se: 

Como eu me comportaria se não estivesse preocupado, triste, magoado, ressentindo, frustrado? 

Como me comportaria se estivesse no controle de minhas emoções, sentindo o poder que existe dentro de mim, sentindo que sou capaz de lidar com os obstáculos, sentindo que sou capaz de gerir meu futuro? 

Como me comportaria se estivesse em minha melhor versão?

Como colocaria meu corpo?

Como respiraria?

Como seria o som de minha voz? 

Como eu andaria?  

Essa estratégia ativa nossa emocionalidade positiva. Não é mágica, porque estamos estrategicamente manejando informações em nosso cérebro. Mas funciona como mágica. 

Possivelmente, não deixaremos de nos preocupar, por ser esse um processo que tem função em nossa estrutura mental. Porém, poderemos deixar de nos preocupar com o que não está sob nosso controle, com medos imaginários, com antecipações desnecessárias, com simulações de conversas que jamais existirão.

Se conseguirmos pôr a preocupação em seu devido lugar – sem um milímetro a mais do que deve lhe caber – muita coisa poderá ser transformada em nossa vida e em nosso sentido de bem-estar e felicidade.  

                                                               

Berenice Kuenerz é psicoterapeuta, life & business coach, mentora em gestão emocional

Juney de Souza

Engenheiro Ambiental |Sustentabilidade| ESG | Construções Sustentáveis | Perito Ambiental | Auditor Interno e Externo | Sistema de Gestão Ambiental| Licenciamento Ambiental | Consultor Ambiental e ESG , NR's, ISO 14001

7 m

Seu artigo oferece uma análise perspicaz sobre o hábito da preocupação, destacando como nossos cérebros têm uma tendência natural a vislumbrar ameaças, muitas vezes nos deixando presos em um ciclo de pensamentos negativos. É admirável como você não só identifica o problema, mas também oferece estratégias práticas para interromper esse ciclo e promover uma mudança positiva. Suas sugestões, como interromper o pensamento preocupante através do movimento do corpo e estabelecer limites de tempo para reflexão, são exemplos brilhantes de como podemos assumir o controle consciente de nossa mente. Sua abordagem de usar o poder do "E" para reconhecer tanto os aspectos negativos quanto os positivos da situação é inspiradora. Ao compartilhar suas próprias experiências e as estratégias que têm funcionado para você, você cria uma conexão genuína com o leitor, transmitindo empatia e encorajamento. Seu artigo é verdadeiramente uma fonte valiosa de insights e orientações para aqueles que desejam neutralizar o hábito da preocupação e cultivar uma mentalidade mais positiva. Parabéns pelo seu trabalho inspirador!

José Roberto Rebello

Engenheiro Mecânico e de Produção - FEI PUC/SP

9 m

A consciência emocional traz maior clareza sobre nossas necessidades pessoais, permitindo escolhas mais alinhadas aos nossos valores e maior autenticidade para as nossas vidas. É preciso crer, mas não em falsidades, nem em tolas suposições, mas primeiro em nós mesmos, humanos como somos, ter autoconfiança para acreditar em nossas habilidades e como podemos utiliza-las. Objetividade significa avaliar os fatos com clareza, tomar decisões eficazes com base em dados e análises conscientes, de forma transparente e imparcial, inspirando confiança naqueles que nos cercam. Parabéns pelo texto inspirador, Berenice!

Mauricio Muniz

Diretor de Obras e Desenvolvimento de Novos Negócios | Comercial | Gestão de Contratos | Engenharia

9 m

Excelente artigo Berê, a preocupação é um dos conceitos diretamente associado ao medo, que mais está presente na mente das pessoas hoje em dia. Poder utilizar técnicas para neutralizá-la é muito importante.

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