Os Dilemas de Acesso ao Emprego Jovem
Atualmente, é lugar comum ouvir-se, por parte de quem acabou os seus estudos, que está desempregado ou à procura de “aquela” oportunidade, que é difícil encontrar um emprego que proporcione boas condições, e não apenas remuneratórias, mas também para quem está do outro lado e procura profissionais, de que hoje em dia, assistimos a uma competição feroz pelo escasso talento existente, com o que isso tem de perversão do sistema, levando a uma inflação de valores de entrada e demais condições para que uma negociação num processo de recrutamento seja bem sucedido.
Ao nível dos jovens que visam a sua entrada no mercado de trabalho, uma das desvantagens que lhes é “colada” à pele consiste no facto de não terem adquirido experiência profissional, e de igual modo, não terem uma network ativa nem ferramentas de comunicação mobilizadas para um contacto com potenciais empregadores ou com líderes ou personalidades-chave que possam, de igual modo, constituir-se como seus mentores ou facilitadores no acesso ao mercado de trabalho.
Contudo, atualmente, é possível valorizar a importância dos sistemas de formação profissional de tipo dual (formação teórica em contexto escolar combinada com formação em contexto de trabalho que replicam este modelo de sucesso na Alemanha e Dinamarca) existentes, que são, por si só, muito facilitadores das transições do sistema de ensino para o mercado de trabalho e asseguram aos jovens uma vantagem competitiva importante capaz de resolver as questões mencionadas anteriormente.
Ao invés dos jovens que apenas concluem o ensino secundário nas vertentes gerais, por um lado, ou os estudantes que concluem formação profissional que não inclui oportunidades de formação em contexto de trabalho, mediante a realização de estágios curriculares.
De igual modo, e observando jovens que finalizam o ensino superior, em que mais do que a crença pessoal e/ou familiar numa pressuposta vocação que os levou a frequentar determinado curso, importa ter a consciência de que as transições para o mercado de trabalho são, por inerência, afetadas pela área de estudos em que os jovens concluem a sua formação, havendo algumas que possuem um baixo nível de procura por parte de potenciais empregadores, enquanto, em outras, sucede o inverso.
Temos assistido, com maior incidência, nos últimos quinze anos, a um forte incremento das competências digitais nas empresas e sociedade civil, o que tem contribuído para uma elevada procura de jovens nas formações em áreas STEAM (Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), a par de áreas relacionadas com a Saúde, a que não é despicienda a constatação do rápido envelhecimento da população e das (novas) necessidades que decorrem da longevidade. Enquanto os jovens que (ainda) procuram cursos nas áreas sociais e humanas têm experienciado dificuldades na inserção no mercado de trabalho.
Mais do que nunca, o que se exige às instituições do ensino superior é assegurar, e em alguns casos, reforçar o alinhamento entre as necessidades presentes do mercado de trabalho e as ofertas educativas e formativas, convidando as empresas a propor novas áreas de intervenção académica, a enquadrar novas formas de resposta conjunta à escassez de talento para suprir necessidades do tecido produtivo e económico mas também a tornar os cursos com maior carga programática empresarial, definindo novos modelos curriculares, mais apelativos, mais adequados às expectativas das empresas, onde o mix de experiências e vivências entre ambas as partes permitirá mitigar receios, lacunas e desvios entre o planeado, o esperado e o concretizado para a comunidade académica, nomeadamente, os jovens.
Bem sabemos que o que determina a oferta formativa pelas diferentes Instituições do Ensino Superior não é apenas ditado apenas por questões de empregabilidade, pois existem áreas de estudo que assumem a sua importância para a disseminação do conhecimento ou ainda para estudo de importantes problemáticas sociais que colocam desafios à sociedade civil.
Sendo pacífico o argumento, e assim acredito, de que o imenso investimento em capital humano a nível académico acarreta elevados prejuízos para a produtividade e crescimento socioeconómico do país se não for devidamente aproveitado, não é menos verdade de que o padrão de especialização da economia pode afetar a disponibilidade dos empregadores para promover a formação em contexto de trabalho.
Afinal, os empregadores que desenvolvem a sua atividade em setores que se caracterizam por uma competição que é, na sua maioria, proveniente dos custos do fator trabalho, estarão pouco interessados em investir e participar em sistemas de formação que impliquem uma adesão a metodologias de aprendizagem em contexto de trabalho. Nestes casos, prolifera uma elevada rotação de trabalhadores o que dificulta a transição dos jovens para um emprego com condições mínimas de estabilidade.
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Ainda que possamos assumir que a existência destes modelos empresariais de gestão do capital humano afeta a entrada no mercado de trabalho para os jovens, leva-nos a pensar que não havendo incentivos à contratação permanente por parte dos empregadores, tal terá o ónus de perpetuar a precariedade, de conduzir ao abuso dos estágios e dos apoios à contratação sem resultados eficazes, ou seja, a contratação por tempo indeterminado.
Tenderão a concordar comigo quanto à importância das políticas de emprego promoverem a contratação permanente, com lugar à definição, com carácter obrigatório, da formação em contexto de trabalho, bem como de ser proporcionado apoio prioritário às empresas que desenvolvem a sua atividade nos setores mais avançados da economia, as áreas dos serviços intensivos em conhecimento, os relacionados com as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), Investigação e Desenvolvimento (I&D) e Consultoria em Gestão Estratégica, Business Inteligence e Análise de Mercados, entre outros.
Como premissas de uma necessária e urgente mudança para uma maior e melhor competitividade das empresas a par de um maior equilíbrio socioeconómico e com isso a almejada estabilidade que permitirá um crescimento sustentável do país, é crível de que a expansão do sistema dual, e a sua formalização como instrumento nuclear da educação na sua correlação com as empresas, permitiria contribuir para a melhoria da qualidade e a rapidez da transição dos jovens do sistema de ensino para o mercado de trabalho.
De igual modo, deverá haver um reforço, seja com a presença de atores da economia e das empresas, logo a partir do ensino secundário, na reflexão conjunta quanto às áreas de conhecimento a dinamizar e competências-chave a adquirir pelos jovens em articulação com as Direções dos Agrupamentos de Escolas, sob escrutínio do Ministério da Educação mas também na disponibilização de informação aos jovens, nomeadamente, sobre a empregabilidade e a qualidade do emprego em diferentes áreas de formação.
Com níveis de informação e participação reforçadas a partir da economia e das empresas, a consequência positiva a reter seria decisões mais informadas por parte dos jovens quanto ao seu futuro profissional, diminuindo o seu grau de insucesso inicial, a sua consequente frustração e o desapontamento das respetivas famílias, e permitindo tornar mais célere, frutífera e imediata a sua aposta na área profissional mais adequada.
Desta forma, e em resumo, qualquer política dirigida ao emprego jovem deve ter como premissa uma agenda estratégica que vise mais longe do que apenas o combate ao desemprego jovem, assim sendo o país agradece pois estarão mais salvaguardados tanto o seu futuro próximo como a sua coesão socioeconómica.
Nuno Silva
Embaixador Aliança ODS Portugal
ODS 4 – Educação de Qualidade
Global Compact Network Portugal