Por que não quero "parabéns"​ no dia 8 de março
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Por que não quero "parabéns" no dia 8 de março

Gosto até mais de flores do que chocolate para ser sincera. Mas com o dia 8 de março à espreita, rosas e bombons têm um significado bem desagradável para mim há anos. Se você procurar por imagens a data na busca do Google, a cor rosa vai explodir na sua tela. São as ideias de cartões com frases edificantes. Nunca soube o que fazer com o "parabéns pelo seu dia" vindo dos colegas homens nas empresas onde trabalhei. Quando eu sabia que exerciam a mesma função que eu e ganhavam mais, nem sorriso amarelo eu conseguia esboçar. Eu sei que é algo complicado, que muitos estão presos nas amarras da nossa estrutura machista de sociedade e não sabem como agir. Na verdade, não há nenhuma cartilha. Só quando alcançarmos a equidade será possível ter algum motivo para comemorar.

Estava lembrando ontem com duas amigas, que são excelentes profissionais, algumas comemorações estranhas em lugares onde trabalhei. Não é incomum edições de jornal, revista ou portal saírem no dia 8/3 totalmente "assinadas por elas". Aquele recadinho do dono do veículo (homens em 99% dos casos) de um mundo dominado pelo "sexo frágil" pelo menos por um dia. E para preparar esse deleite para os leitores, os homens das redações que fiquem de folga, né? Há alguns anos, pelo menos, o El País colocou seus repórteres do sexo masculino para redigirem edições totalmente pautadas nas diferenças salariais entre gêneros, quantidade de mulheres versus homens em cargos de chefia, jornadas mais exaustivas (especialmente para mães), sensação de ameaça de demissão ao abraçar a maternidade. Faltou o recorte de raça para mostrar como o buraco é mais embaixo.

De todos os momentos estranhos, nenhum se comparou à cestinha de café da manhã seguida de uma fala de um chefe. Ele começou dizendo ser contra o discurso da igualdade. Todas as colegas se entreolharam, sem exceção. Logo, ele se explicou: achava que nossa missão na Terra era "complementar os homens". Eu realmente saí do ambiente porque achei agressivo em diversos níveis. Comentei com meu chefe direto, que se revelou extremamente constrangido com a atitude do superior. Mas algumas colegas, ao final, até acharam "fofo". Foi ali que tive a certeza de que junto com as edições especiais jornalísticas, esse é um presente que eu não quero nesta data e em nenhuma outra.

Por fim, chegamos a um cenário totalmente adverso, agravado pela pandemia, no qual as mulheres estão em piores condições: quem trabalha tem jornadas ainda mais exaustivas, entre desempregados foram as mulheres as que mais perderam mais postos de trabalho, não há uma cultura na maioria das empresas que incentive mulheres que são mães (ao contrário dos homens que ganham promoções porque a paternidade é vista como responsabilidade por gestores. Eu, aliás, já mencionei isso no primeiro artigo que escrevi aqui nesta rede) e o "etarismo" é infinitamente mais cruel com mulheres (para ler: O Mito da Beleza, da Naomi Wolf). Eu tenho diversas amigas brilhantes na casa dos 50 que estão há meses procurando um frila que seja. Desanimador é pouco.

Algumas informações para refletor antes de sair por aí dando "parabéns" no dia 8 de março.

Dupla jornada faz mulheres trabalharem 3,1 horas a mais que homens -

Como reparar desigualdades de gênero e raça e no mercado de trabalho.

O desemprego em Pernambuco tem rosto de mulher.

Pandemia deixa mais da metade das mulheres fora do mercado de trabalho.

Participação da mulher no mercado de trabalho é a menor em 30 anos.



Natalia Contave

Mestre e especialista em linguagem | Planejadora, estrategista, produtora e criadora de conteúdo, revisora, redatora, roteirista, copywriter, comunicação e marketing digital

3 a

Obrigada por corrermos juntas. Obrigada pela generosidade com as palavras, é muito inspirador. A luta ainda é longa e grande, mas pode contar comigo sempre! ❤️🌟

Andressa Neves

Partner & COO na BIRD | Marketing | Growth | Estratégia para Aceleração de Negócios

3 a

Obrigada por tanta sensatez!

Léo Kaufmann

CEO e Curador do RH Summit | Palestrante "Fogo no Palquinho" | Mediador | Influenciador de RH | 6° LGBT+ 🏳️🌈 mais seguido do LinkedIn BR | Falando do mundo corporativo de um jeito NÃO tão corporativo

3 a

Assim como em outros recortes da diversidade, aqui também vemos ela ser estampada apenas na fachada das empresas, onde o discurso é lindo nas redes sociais e comunicação, mas basta “passar da porta” que veremos que discurso e prática estão muito, muito distantes.

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