Qual o poder de influência que as redes sociais exercem sobre nós ? Timeline x Lifetime

Neste artigo, vamos construir uma narrativa baseada em fatos que nos conduzirão a uma conclusão muito interessante (e importante) sobre como estruturamos nossa lifetime.

Em 2014 o Facebook utilizou inteligência artificial para classificar os sentimentos dos feeds de notícias, e em seguida conduziu um experimento onde exibia para grupos controlados mensagens tendenciosamente negativas e positivas (sim, eles enfrentaram críticas duras pelo experimento sob o ponto de vista ético).

Você imagina qual foi o resultado ? Os usuários que recebiam um feed mais positivo estavam propensos a realizar posts positivos, e vice-versa (Fonte: Bruce, Andrew. Bruce, Peter. Estatística Prática. Alta Books. 2019).

Atualmente o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de países por tempo gasto pela população nas redes sociais, diariamente cerca de 3h:31min. Se considerarmos que você dorme 8hs das 24hs do dia, passamos algo em torno de 22% do nosso tempo útil (quase ¼) plugados à tela do celular vendo o que os outros estão fazendo.

Fato 01: A timeline de nossas redes sociais ocupa uma parte importante da nossa lifetime, e o conteúdo da mesma tende a influenciar nossa percepção.

"Você é a média das 05 pessoas com quem mais convive"

Esta antiga frase de Jim Rohn ecoa nos dias de hoje nos relembrando que o meio no qual convivemos influencia diretamente nossos padrões de comportamento, hábitos, mindset, etc.

Ao convivermos com diferentes grupos e pessoas, nossa vida é marcada por mudanças na forma como reagimos, pensamos, lidamos com conflitos, socializamos.

Heráclito (filósofo grego) afirmou: “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”.

Fato 02: O meio atua sobre o indivíduo, alterando seu padrão de comportamento.

As redes sociais são empresas, e como tal precisam gerar lucro, o qual está fortemente ligado à venda de anúncios.

Um caso interessante no meu ponto de vista é o próprio Youtube. Há pouco mais de 01 ano, propaganda "pré vídeo" era somente um anúncio de 5 segundos antes de seu início, e mesmo assim nem sempre era exibido.

Atualmente é muito comum termos rodadas duplas de publicidade (2 anúncios de 5s pré vídeo), e durante conteúdos com mais de 5min você encontrará fatalmente anúncios extras interrompendo o vídeo principal. Isso sem contar o anúncio de capa quando abrimos o aplicativo, os stories dentro da timeline, etc …

O famoso documentário "o dilema das redes" (Netflix) aborda o assunto com propriedade. Sim, para vender mais e aumentar receita existe um conflito ético implícito, o aplicativo precisa "reter" você por pelo máximo de tempo possível, e para isso irá "estudar e testar" diversos conteúdos, anotando aquilo que tende a prender sua atenção por mais tempo, repetindo o processo em seguida.

Na medida em que o algoritmo retém sua atenção, vai criando uma bolha hermética de conteúdos, adicionando novas camadas de "verdades", comentários, vídeos e postagens, e estes se entrelaçam ao seu viés cognitivo de confirmação, criando a falsa impressão de que o mundo inteiro está falando daquilo que você pensa, quando na verdade talvez seu grupo de convívio represente uma minoria sem expressão.

Fato 03: Os algoritmos tendem a atuar ativamente para selecionar conteúdos, e o filtro é baseado em fatos que geram atenção, independentemente do sentimento envolvido ou das consequências para o indivíduo.

Agora, junte os três fatos e pense comigo:

Se uma parte considerável de nossa convivência se dá no mundo digital, sendo que este "mundo" é controlado por algoritmos, e o "meio" tem o poder de influenciar o comportamento do indivíduo ... logo, as redes sociais detém inexoravelmente o poder de nos influenciar ativamente.

Negar este fenômeno e seu real impacto faz parte do processo negacionista que temos quando falamos em manipulação. Nós humanos estamos no topo da cadeia alimentar do mundo, somos um animal evoluído e desenvolvido, correto ? Então como podemos ser deliberadamente manipulados por meras máquinas inventadas por nós ?

Pois é, só que a grande notícia é que você não está sendo manipulado por uma máquina, olhe por trás dos servidores e verá um grupo de humanos muito inteligentes que projeta e cria estes algoritmos.

Ou seja, é a velha história do grupo manipulado e do grupo manipulador, parece que apenas demos uma nova roupagem a um assunto histórico.

Mas … qual a saída ?

Não precisamos sair quebrando a sede do Facebook, na verdade o processo é muito simples, você se lembra do fato 01 ? pois é … 

Conectar-se com milhares de pessoas não te tornará mais sábio ou poderoso, pelo contrário, dará ao algoritmo mais opções de conteúdos dispersos para testar como chamar sua atenção … e este fato é cruel, infelizmente parece que nossa natureza nos "puxa" na direção de notícias ruins, conflitos polarizados, etc.

Precisamos ser fortemente seletivos quanto ao grupos das 5 pessoas com quem mais vamos conviver.

Quando por exemplo estamos lendo um livro nos "conectamos" ao autor, trazendo-o para o nosso círculo de amizades. Você pode se conectar com grandes mentes lendo suas obras. 

E se, ao invés de passar 03 horas em redes sociais passarmos 1:30hs, e a outra 1:30hs lermos um livro ? E se começarmos a consumir documentários, periódicos e colocarmos mais energia em conversar com nossos amigos e familiares ?

Fato 04: Você tem o poder de mover o tabuleiro e virar o jogo a seu favor, mas precisa colocar energia mental neste processo.