Redatores ChatGPT Cinema FOMO

Redatores ChatGPT Cinema FOMO

Quis o Universo que ontem eu elucubrasse sobre produção e assimilação de conteúdo em tempos de Inteligência Artificial.

Comecei lendo nessa rede dois relatos de redatores lamentando que clientes as acusavam de usarem ChatGPT para escreverem. Sinto acreditar que esse mau comportamento de "clientes" serão cada vez mais comuns. Se antes esse tipo de contratante já dizia ter um sobrinho que "mexe com internet", que sabe desenhar no computador ou que texto qualquer um escreve, agora será cada vez mais diário essas pessoas acreditarem serem capazes de brifar a plataforma de inteligência artificial para escreverem textos gratuitamente e sempre em constante urgência.

Sobre a quantidade crescente de textos/posts, o cliente pode sim ter em mãos uma quantidade infinita de opções de conteúdos. Mas a pergunta é: sabe o que fazer com eles e seus resultados? Pergunto isso, pois é cada vez mais comum como exigência em vagas para redatores saberem atuar com métricas e KPIs.

Acumulo de função não é novidade. Como jornalista já fui perguntado se sabia tirar foto, diagramar, subir banner em blog e programar utilizando códigos. Algumas dessas tarefas aprendi, outras não. E aqui, alguém dirá "Mas aprender é bom, conhecimento não ocupa espaço". Aprender é bom, mas conhecimento/informação ocupa espaço sim. Basta ver a memória de seus smartphones, desktops, pen drives etc.

Corta para depois do almoço quando assisto ao filme "Johnny Mnemonic" de 1995, um proto Matrix protagonizado por Keanu Reeves e escrito por William Gibson, chamado de "profeta noir" do cyberpunk e criador do termo "ciberespaço".

Sinopse: "Em 2021, metade da população do mundo sofre de uma doença fatal chamada "NAS" que é transmitida por ondas de rádio. Johnny, um mensageiro cibernético, é contratado para carregar o chip com os dados da cura dentro do cérebro até Newark, sendo perseguido por empresários gananciosos."

Johnny transporta dados importantes num HD localizado em seu cérebro com capacidade de memória de 80 gigas, que ele duplica para 160 gigas. Mas seu último contrato exige que ele transporte 320 gigas de informação. E com isso, começa a ter fortes dores de cabeça e sua imagem física vai se deteriorando ao longo do filme. Numa comparação grosseria ele caminha para o mesmo fim que a vilã Irina Spalko de Indiana Jones e a Caveira de Cristal, que ao pedir todo o conhecimento do mundo, morre não sem antes sentir muita dor.

Mnemonic talvez (interpretação minha) um exemplo ainda simples do que se tornariam os produtores de conteúdo desses nossos anos 20, consumindo e se sobrecarregando de conteúdos ao mesmo tempo que tentamos produzir e entregar algo. Seria (novamente, interpretação minha) a manifestação do FOMO (fear of missing out).

E se nos cinemas tudo é apoteótico e quase catársico, fora da tela provoca ondas de ansiedade pelo próximo job, pela próxima pauta, pelo próximo briefing e quiçá pela próxima acusação de uso de inteligência artificial.

Ainda estamos engatinhando nessa relação de IA como colega de trabalho. Redatores, sei que é difícil, mas essa é só mais uma das várias mudanças que nos impactam desde que a internet chegou ao mundo.

Clientes, calma.

Espero ter ajudado. rs


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