#Semana05 | Trabalho é sofrimento? Ódio da segunda-feira? Encontrando um trabalho que você gosta – Cap. 1, Parte 3 | Confira: Aula e Resumo da semana

#Semana05 | Trabalho é sofrimento? Ódio da segunda-feira? Encontrando um trabalho que você gosta – Cap. 1, Parte 3 | Confira: Aula e Resumo da semana

Trabalhar gera satisfação pessoal e não sofrimento. No último artigo que eu publiquei aqui, eu o encerrei afirmando que eu te provaria que trabalho não é sofrimento, que eu aliviaria a sua culpa de passar mais trabalho para as pessoas e, principalmente, prometi que nós vamos ressignificar esse conceito pesado que se têm, em geral, sobre o trabalho, para que nós possamos prosperar no campo profissional, e sermos líderes melhores para nossas equipes, e mais estratégicos para a empresa. 

Como faremos isso de "ressignificar"? Muito simples: vamos estudar.

De onde veio essa acreditarão coletiva e generalizada de que trabalhar nos faz sofrer, como falamos na newsletter da semana passada? De onde tiramos a ideia de que trabalho é uma coisa ruim e que bom mesmo é o final de semana, quando, enfim, a gente pode ter um pouco de felicidade? 

A verdade é que todos nós adoramos trabalhar, e nos importamos muito com o que fazemos como ocupação.

A verdade é que todos nós adoramos trabalhar, e nos importamos muito com o que fazemos como ocupação, essencialmente porque essa área de nossas vidas constitui grande parte da nossa identidade, da nossa personalidade, de quem nós somos e como nos apresentamos. O trabalho também nos mantém ocupados, em um fluxo contínuo e progressivo de ideias e ações por longos períodos. Ele nos permite nos expor ao mundo e expressarmos nossas opiniões, empenhos e investimentos. Quando trabalhamos, somos alguém, alguém que é parte de um lugar, de uma “gente”, de um coletivo que têm um propósito único. É a atividade do trabalho que nos desafia, que nos obriga a buscar melhorias, aprendizado, crescimento. É também nesta área que obtemos os recursos financeiros para suportar a nós mesmos e nossas famílias. É ali que validamos nossa importância no mundo e fazemos nossa contribuição para além do pequeno universo familiar e doméstico. É o que constrói o nosso legado e realiza a grande aspiração de todo ser-humano: permanecermos vivos pela nossa obra.

Quando trabalhamos, somos alguém, alguém que é parte de um lugar, de uma “gente”, de um coletivo que têm um propósito único.

Terezinha Azerêdo Rios, por sua vez, afirma que o mundo do trabalho é a própria cultura humana, que resulta da intervenção consciente e criativa dos seres humanos na realidade com a qual entram em contato. É pelo trabalho que os seres humanos se constituem enquanto tal. E é pela maneira como, trabalhando, homens e mulheres produzem sua vida, que se organizam as diversas formas de sociedade. Os diversos sistemas econômicos se configuram a partir da produção da vida material, e dela decorrem os outros modos de produção da existência.”

Tendo, então, por característica do trabalho a própria cultura humana, como disse a autora, é de se esperar que nossa relação com o trabalho seja também contraditória e complexa, já que o espaço do trabalho, na história da humanidade, foi marcado pela exploração. 

Se você preferir ver o conteúdo deste artigo em formato de vídeo, conheça meu Canal Luciana Figueiredo Desenvolvimento Humano no Youtube:

A solução desta questão, para Mário Sérgio Cortella, seria a substituição da ideia de trabalho como castigo, pelo conceito de realizar uma obra. “Por que muitas vezes a ideia de trabalho é associada a castigo, fardo, provação?”, questiona o autor. Em seguida, ele explica a origem desse ponto de vista comum ao homem médio:

“Por que muitas vezes a ideia de trabalho é associada a castigo, fardo, provação?”

“Do ponto de vista etimológico, a palavra ‘trabalho’ (assim como em francês, espanhol e italiano) tem origem no vocábulo latino ‘tripalium’, que era um instrumento de tortura, ou seja, três paus entrecruzados para serem colocados no pescoço de alguém e nele produzir desconforto. A origem do Ocidente é o mundo greco-romano. Se pegarmos, por exemplo, o período do século II a.C. até o século V, teremos a formação da sociedade clássica greco-romana com as heranças que o mundo grego havia gerado. Essa sociedade cresceu em sua exuberância a partir do trabalho escravo. Em sociedades assim, montadas com base no sistema escravocrata, a própria ideia de trabalho remete à escravidão. Portanto, trabalho é coisa menor, indecente, imoral ou de gente que está sendo punida.

Tivemos, depois, o mundo medieval em que a relação foi senhor e servo. Substitui-se, num determinado momento, a ideia de trabalho pela de servidão. Não há mais o escravo, mas há o servo, que precisa trabalhar um pouco para ele e o restante para o senhor dele. Persiste o esquema de dependência. O mundo capitalista europeu substituiu o trabalho escravo na Europa pelo trabalho escravo fora da Europa. Continuamos, portanto, com a mentalidade escravocrata. O mundo ocidental no Brasil e nos Estados Unidos, por exemplo, foi todo construído sob a lógica da exploração do outro. Nessas sociedades só nos faltava uma concepção religiosa na qual o trabalho aparecesse como castigo, e isso o judaísmo nos ofereceu. O mundo semita trouxe essa ideia à tona, porque a religiosidade semítica expressa no mundo hebraico vai trazer a ideia do trabalho como castigo. Afinal de contas, qual foi o grande crime de Adão e Eva? Eles desobedeceram à divindade. A mulher recebeu uma condenação: ‘Vais pagar com as dores do parto pelo teu erro.’ E o homem recebeu outra condenação: ‘Vais trabalhar’.”

Afinal de contas, qual foi o grande crime de Adão e Eva? Eles desobedeceram à divindade. A mulher recebeu uma condenação: ‘Vais pagar com as dores do parto pelo teu erro.’ E o homem recebeu outra condenação: ‘Vais trabalhar’.

A explicação de Cortella sobre a relação histórica do homem com trabalho como castigo percorre toda uma linha no tempo, até os dias atuais. Mas consideramos que, até aqui, já temos uma forte noção do porquê associamos, infelizmente, trabalho como punição ou expiação de pecados. Isso é tão verdadeiro que encontramos, em nosso dia a dia, um sem-número de pessoas que planejam a felicidade para depois da aposentadoria, que passam toda uma vida aguardando pelo dia que poderão deixar de trabalhar e enfim desfrutar. Entende-se, claramente, a associação do trabalho com a dor e o sentimento de exploração e privação, enquanto o “encerramento das atividades laborais”, se assim podemos chamar o período da “aposentadoria” como no senso popular, representa o início de um período de prazer e liberdade na vida do indivíduo.

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A contrariedade está no fato de que não trabalhamos apenas porque da nossa ocupação dependemos para ter o nosso sustento, mas sim porque o trabalho representa quem somos e produz nosso legado. Cortella infere nesse sentido que “parar de trabalhar, você não vai parar nunca. Nem pode. Porque você nunca deixará de fazer a sua obra. Seja a sua obra aquela que você faz para continuar existindo, seja para ter o seu reconhecimento. Eu me vejo naquilo que faço, não naquilo que penso. (...) Etimologicamente, a palavra ‘trabalho’ em latim é ‘labor’. A ideia de ‘tripalium’ aparecerá dentro do latim vulgar como sendo, de fato, forma de castigo. Mas a gente tem que substituir isso pela ideia de obra, que os gregos chamavam de ‘poiesis’, que construo, em que me vejo. A minha criação, na qual crio a mim mesmo na medida em que crio no mundo.” 

Veja o Vídeo-aula completo aqui:

No mesmo passo, de ver sentido no trabalho, ou, como disse Cortella, de substituir a ideia de trabalho como castigo por trabalho como obra, recorremos a Viktor E. Frankl. Possivelmente, Frankl é, no mundo, um dos mais reconhecidos autores, entre os que escreveram sobre o trabalho como sentido. Ele é o autor da conhecida obra “Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração”, escrita para descrever o que ele sentiu e observou durante o tempo que esteve no campo de extermínio nazista na Segunda Guerra Mundial, sendo considerada como uma obra-prima de observação psicológica e um testemunho de grande humanidade. Frankl foi também um professor PHD nas áreas de Neurologia e Psiquiatria na Universidade de Viena, e fundador da logoterapia. Consideramos, portanto, oportuno e proveitoso, que tragamos algumas passagens da obra do autor para aprofundarmos nosso estudo e nossa análise da ética sobre o trabalho:

A busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano.

“Para a logoterapia, a busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano. Por essa razão costumo falar de uma vontade de sentido, a contrastar com o princípio do prazer (ou, como também poderíamos chamá-lo, a vontade de prazer), no qual repousa a psicanálise freudiana, e contrastando ainda com a vontade de poder, enfatizada pela psicologia adleriana através do uso do termo ‘busca de superioridade’. A busca do indivíduo por um sentido é a motivação primária em sua vida, e não uma ‘racionalização secundária’ de impulsos instintivos. (...) O que acontece é que o ser humano é capaz de viver e até de morrer por seus ideais e seus valores! (...) De acordo com a logoterapia, podemos descobrir esse sentido na vida de três diferentes formas: 1. Criando um trabalho ou praticando um ato; 2. Experimentando algo ou encontrando alguém; 3. Pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável. A primeira, o caminho da realização, é bastante óbvia. A segunda e a terceira necessitam de uma melhor elaboração. (...)”

Como vemos na obra de Viktor E. Frankl, o trabalho é a maneira mais direta de encontrar um sentido na vida, e esta é a principal força motivadora no ser humano, força esta capaz de levar um ser-humano a suportar até mesmo as angústias e dores de um campo de concentração nazista, servindo o seu trabalho como um ideal vigoroso e resistente.

O trabalho é a maneira mais direta de encontrar um sentido na vida, e esta é a principal força motivadora no ser humano.

Martin E. P. Seligman, psicólogo pesquisador da felicidade e referência global em psicologia positiva, já citado neste tópico de nosso estudo, escreveu no mesmo sentido: “A vocação é a forma mais satisfatória de trabalho porque, gerando gratificação, é exercida pela atividade em si, não pelos benefícios materiais que acarreta. Acredito que a satisfação pelo estado de plenitude resultante do exercício da atividade logo estará superando as recompensas materiais como principal razão para o trabalho. Ainda mais significativamente, com a vida e a liberdade agora minimamente cobertas, estamos a ponto de testemunhar uma política que vai além da rede de segurança e leva muito mais a sério a busca da felicidade.”

Nos questionamos se as inferências a favor do trabalho como elemento resultante de profunda satisfação e felicidade de Cortella, Frankl e Seligman já seriam, até aqui, suficientes para despertar os líderes para a reflexão crítica sobre se o trabalho é o suplício que os rastros da longa história escravocrata deixaram em nosso pensamento coletivo. Será o líder um carrasco por transferir trabalho aos seus liderados? Estaria ele sendo antiético, e levando dor e sofrimento à sua própria equipe? Estaria ele se beneficiando do detrimento dos seus, enquanto se beneficia dos resultados criados por eles? Certamente que não. 

Será o líder um carrasco por transferir trabalho aos seus liderados? Estaria ele sendo antiético, e levando dor e sofrimento à sua própria equipe? Estaria ele se beneficiando do detrimento dos seus, enquanto se beneficia dos resultados criados por eles? Certamente que não. 

Ora, se é cientificamente comprovado que o trabalho é o principal elemento gerador de realização e satisfação no indivíduo, então, a missão de liderar se torna nobre, e, por consequência, ética.

Esse nosso papo não termina por aqui. Na próxima newsletter vamos avançar para o tema da sublimação e do sofrimento pelo trabalho. Sim, o sofrimento pelo trabalho existe, é real, e causa muitos prejuízos tanto para a saúde mental dos trabalhadores, como para as empresas.

No estudo da próxima aula vamos avançar também na bibliografia e visitar algumas obras mais antigas e clássicas, e provavelmente menos conhecidas comercialmente, que vão fazer a diferença para você.

Tudo assim, bem ao nosso estilo, fácil de entender, para economizar o seu tempo de leitura, e ainda assim manter um bom nível para o seu estudo sobre liderança, e não ficar só no raso, não ser mais uma pessoa comum com um powerpoint na tela. Combinado?

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Confira o resumo da semana e uma série de postagens no meu Instagram:

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40 anos é a idade média dos clientes que atendi em 2021

Essa deve ser a idade que mais nos expõe a processos importantes de tomada de decisão. Nesta fase da vida, sabemos que o que fizermos agora e nos próximos dez anos irão ditar, com certeza, o que acontecerá quando estivermos na fase madura de nossa vida ocupacional. Faz sentido buscar alguém para te ajudar a pensar, ajudar a tomar decisões mais estratégicas e sensatas, e a buscar um espaço seguro para fazer isso, com uma escuta profissional, ao invés de ficar comentando com os seus pares e amigos qual será seu próximo passo, ou os seus motivos para tomar uma decisão em detrimento de outra. Se você se identificou, e quer vivenciar a experiência das sessões individuais, me uma mensagem que a gente conversa.

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Dê uma sessão de presente e ganhe uma sessão dupla

Um presentão desses! A experiência da sessão individual é muito rica para quem: está frente a um dilema e quer tomar uma decisão estruturada e segura; quem sente que precisa se desenvolver; quem se sente estagnado e quer mexer não “uns pauzinhos”, mas “os pauzinhos certos”. Vivemos em um tempo que está nos sobrecarregando, exigindo muito de nós, e muitas vezes precisamos tomar decisões importantes. Dê uma sessão de presente para um amigo e ganhe uma sessão dupla, para cada um trabalhar o que quiser - você e o/a seu/ua amigo/a. 

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Vivencie a experiência das sessões individuais:

Protagonismo na liderança, pega esse tema. Você dá conta? É esse tipo de questão que evidencia a necessidade de pensar e agir estrategicamente, a serviço do seu time, a serviço do seu cliente, e a serviço do seu próprio desenvolvimento. É sobre isso.



Mais sobre mim:

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Eu me vejo no que eu faço.

Eu acredito que esse é um direito fundamental de todo mundo: escolher um trabalho que esteja tão alinhado com você, que você se veja nele. E deve ser também a nossa maior conquista, porque é muito provável que a gente não acerte de primeira, que novas profissões e novos de trabalhos surjam, ou que você tenha mudado, amadurecido, e agora precisa se alinhar a um novo caminho profissional. Não é fácil o processo de descobrir o que a gente gosta, e ir em busca disso. Não é fácil construir uma nova identidade profissional. Mas vale a pena, e isso posso te dizer por experiência própria, e porque vejo isso acontecendo todos os dias. Hoje eu posso dizer que eu me vejo no que eu faço. Você se vê no que você faz?

Eu sou Luciana Figueiredo, sou consultora na área de desenvolvimento humano e master coach executiva. Minha especialidade são: liderança, estratégias de carreira e identidade profissional. Eu também sou advogada, profissão que troquei pelo meu amor por desenvolvimento humano e por acreditar que as pessoas podem ser mais do que só pessoas comuns. 

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Bibliografia em referência neste artigo:

- CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra? : inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética / Mario Sergio Cortella. 25. ed. Revista e atualizada – Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.

- FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração / Viktor E. Frankl. Traduzido por Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline, 43. ed. – São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2018.

- RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e competência / Terezinha Azerêdo Rios. – 20. ed. – São Paulo: Cortez, 2011. – (Questões da nossa época volume ; 7).

- SELIGMAN, Martin E. P. Felicidade autêntica: usando a nova Psicologia Positiva para a realização permanente / Martin E. P. Seligman, tradução de Neuza Capelo. – 1. Ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

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