A história dos dois tijolos tortos

A história dos dois tijolos tortos

Esses dias li uma história engraçada de um monge que construiu pela primeira vez uma parede de tijolos. Faltava dinheiro pra contratar mão de obra para a construção de um templo, e os monges resolveram encabeçar eles mesmos a construção.

Foi lá o monge aprender a colocar uma parede em pé e diz ele que o simples trabalho de colocar um tijolo em cima do outro é bem mais complicado do que parece: você nivela um lado e o outro fica torto, daí vai corrigir o torto e o outro desnivela, enfim, um caos.

Com muito tempo e paciência o monge terminou sua parede, mas foi só dar um passo pra trás que ele percebeu que dois tijolos ficaram tortos. Bateu a vergonha e ele quis derrubar tudo pra começar de novo, mas obviamente seus colegas disseram que não.

Quando as visitas ao templo começaram, o monge simplesmente tentou ao máximo evitar que a galera passasse pelos tijolos problemáticos e ele mesmo morria de vergonha só de pensar em olhar pra eles.

Um dia ele foi guiar um visitante que, assim que passou pela parede, comentou "caraca, que bela parede de tijolos!". O monge achou engraçado e falou "ué, tá doido? Não tá vendo aqueles dois tijolos tortos?". Foi aí que o jovem respondeu "sim, mas também estou vendo os outros 998 tijolos perfeitamente colocados".

O tapa na cara serviu para o monge e para mim.

Eu sei que coloco minha barra lá em cima pra tudo o que faço. Cresci tendo aprendido a ficar hiper vigilante de cada coisa que está errada em mim aos olhos da sociedade. Sofri bullying no colégio por uns sete anos seguidos, era super vigiada em casa e meu colégio era um tanto rígido demais com quem não tinha notas boas o suficiente pra passar no vestibular.

Todos os dias eu vejo os dois tijolos tortos na parede. No meu trabalho, na minha personalidade, nos meus relacionamentos e nos meus hobbies. Eu olho para a interpretação errada que dei para uma mensagem no trabalho, para a habilidade que ainda não desenvolvi e para aquele pequeno erro que cometi em uma apresentação do bloquinho de carnaval.

Olhar para os outros 998 tijolos perfeitamente bem colocados na parede é um desafio diário para mim, assim como para tantas outras pessoas.

A gente precisa reconhecer aquilo que faz bem, seja no trabalho ou fora dele.

A gente precisa olhar para os números positivos do nosso time ao invés de focar apenas nos indicadores que estão indo mal.

A gente precisa simplesmente porque, do contrário, a piração é certa. Vem o burnout, a ansiedade, a depressão, a síndrome do impostor e tantos outros nomes tenebrosos que perseguem a nossa sociedade todos os dias.

Tudo porque estamos míopes ao focar toda a nossa atenção e esforço para 2 de 1.000 tijolos na parede.


Evelyn Wille

HRBP | Business Partner | People & Culture | Recursos Humanos | RH | R&S

5mo

Realmente, um tapa necessário! Precisamos olhar mais para os 998 tijolos. ❤️

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Antonio Aparecido Diogo

Mentor e Líder Ágil de Pessoas, Projetos e Processos para Alavancar Estratégias Corporativas | Scrum Master | Project Manager | Agile Coach | OKR Master | TKP Kanban | LACP Lean | Management 3.0 | SAFe 6 |

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Muito interessante. Isso se aplica nos recrutadores e gestores que olham somente para as duas competências faltantes e não focam nas 998 que os candidatos tem. Alguns só olham os defeitos e esquecem de olhar as qualidades!! Vamos mudar gente!!!

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Guilherme Carvalho

Procurement | Project Management | Operations | Logistics | Supply Chain | Innovation

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Que excelente reflexão Bell Lopes! O perfeccionismo é um problema (não só de entrevista de emprego hahaha)! Nos cobrar de fazer nosso melhor e aceitar que perfeito só o universo!

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Andressa Oliveira da Silva

Mãe do Joaquim e da Ana Júlia | Desenvolvimento de Negócios | Product Owner | Meios de Pagamento | Adquirência | Gestão de Parcerias | Produtos | Crédito

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Bela reflexão Bell Lopes , que possamos ser como o visitante e sempre observar e enaltecer os 998 tijolos perfeitos de quem está ao nosso redor, para que possam se olhar com mais "valor"e que recebamos essa reciprocidade ☺️

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Tainah Quintela

Estrategista de Discurso | Jornalista | Assessora de Comunicação

5mo

Burnout, crises de ansiedade e de pânico, quadro de depressão, síndrome do impostor... Passei por tudo isso e ainda estou num processo de desarmar gatilhos. Esse texto é um abraço! ♥ Obrigada, Bell!

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