Andrew Yang e a gamificação do governo dos EUA
2020 é ano de eleição presidencial nos EUA. Andrew Yang tem hoje 5% das intenções de voto. Yang tem uma plataforma ousada baseada em "Capitalismo Humanizado" que o tornou o queridinho de eleitores partidários da distribuição de renda, bem como dos grandes industriais como Elon Musk. Esse último grupo adora as ideias de Yang sobre como gamificar os serviços públicos.
Para entender isso é preciso ler "The War on Normal People" (2019), livro onde Yang antes de mais nada expõe dois conceitos centrais de sua plataforma de governo:
1) Universal Basic Income - Yang defende que cada cidadão dos EUA deve receber mensalmente uma quantia, que já foi estimada certa feita em US$ 1.000,00. A justificativa econômica é que esse investimento acabará resultando em uma economia sem precedentes nas contas públicas relativas à Saúde e à Segurança, mais do que compensando o valor investido;
2) Crédito Social - O candidato explica que é uma continuidade lógica do conceito exposto anteriormente. Trata-se de recompensar pessoas conferindo-lhes pontos toda vez que se comportarem positivamente em prol do convívio comunitário. Assim, quem fizer serviço voluntário ganha pontos de crédito social que, mais tarde, podem representar bônus no Universal Basic Income, ou vantagens comerciais (como menores taxas de juros para empréstimos, melhores condições em pagamentos parcelados, e por aí vai).
No capítulo 18 de "The War...", Yang, fala do já existente Time Banking, um sistema de sucesso em Oklahoma pelo qual as pessoas ganham pontos por tempo investido em caridade e outras atividades de assistência social. Então, o candidato especula: E se fosse assim em todos os EUA?
E se o crédito de cada pessoa dependesse de sua obediência às leis e também de sua disposição ética em ajudar os outros? O candidato defende que esse sistema contaria com pontos, medalhas e outros marcadores de incentivo, e que geraria uma sociedade mais humana porque recompensaria o engajamento social. O tal do capitalismo humanizado que Yang sempre menciona em discursos e explica melhor em seu livro.
O crédito social deve ser um sistema iminentemente digital para funcionar. Tem ainda outro pré-requisito: todos os serviços, públicos e privados, devem estar integrados. Isso já começa a ser realidade no estado do Texas, onde o "My Government My Way" funciona como um aplicativo com um dashboard onde o cidadão pode monitorar o status de todos os serviços públicos, bem como sua própria "performance" nesse "jogo".
Claro que essa gamificação proposta por Yang faz muita gente lembrar do controverso, para não dizer preocupante, sistema de crédito social chinês. Este, para muitos, não passa de um forma de tirania, enquanto que para outros, atesta o quão a sociedade chinesa é avançada. A propósito, eu publiquei um artigo sobre o crédito social chinês.
Para mim é no mínino curioso ver um candidato a presidência dos EUA não apenas falando de gamificação, mas como tornando ela parte central de sua plataforma eleitoral. Apesar da gamificação ter começado no Marketing Digital e depois ter migrado com muito sucesso para a Educação, talvez seja na transformação digital dos governos que ela encontre, em um futuro não muito distante, sua grande aplicação.
Product Visionary @ Critical Techworks | Dirigente Escotista @ Escoteiros de Portugal | Curador do Serviço Educativo @ Lisboa Games Week
5 aMais que o perigo de se tornar outro Sesame Credit, não sei até que ponto é condutivo a mudanças de comportamento verdadeiras... não esqueçamos os erros que TODA a comunidade da #gamification cometeu ao apostar tudo nas recompensas extrínsecas sem pensar num desenho verdadeiramente transformador através da motivação intrínseca. É uma abordagem interessante sem dúvida, mas sem educação vale pouco.