ATUAÇÃO PREVENTIVA DAS EMPRESAS EM RISCOS AMBIENTAIS - UMA MISSÃO DOS CONSELHEIROS.
Foto do arquivo pessoal.

ATUAÇÃO PREVENTIVA DAS EMPRESAS EM RISCOS AMBIENTAIS - UMA MISSÃO DOS CONSELHEIROS.

Board Academy Br Marcelo Simonato, BOARD Farias Souza, BOARD Fabrini Galo (CCA IBGC) MBA

Não é de hoje que as questões socioambientais impactam a reputação de organizações, algumas bastante conhecidas. No Brasil, o vazamento de óleo na bacia de Campos (2011), o rompimento da barragem de Mariana (2015) e o rompimento da barragem em Brumadinho (2019) estão entre os 3 mais impactantes. No mundo, vários casos foram retratados em filmes: Batalha pela vida (1992) retratando o acidente com o Exxon Valdez, Fukushima: Ameaça Nuclear (2020), O Preço da Verdade – A história por trás do “caso Dupont” (2020) se refere a casos bastante conhecidos.

Um filme que, embora relate um caso aparentemente localizado, teve uma repercussão mundial é Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento (2000). O Filme, baseado em um caso real, recebeu várias indicações ao Oscar e rendeu para a atriz protagonista (Júlia Roberts) o Oscar de melhor atriz. O filme relata a luta da protagonista para responsabilizar uma grande empresa americana a PG&E, companhia responsável pelo abastecimento de gás, água e eletricidade da Califórnia, pela contaminação da água de uma cidade americana.

O que esses casos citados e os filmes mencionados têm a ver com a atuação dos Conselhos de Administração ou Conselhos Consultivos?

Resposta: Tudo. Trata-se de questão estratégica das empresas.

Quando se pensa sobre a atuação de conselheiros nas empresas, um dos principais direcionadores deveria ser em relação aos riscos que a organização expõe, direta ou indiretamente seus colaboradores, a comunidade onde está inserida e até mesmo o planeta.

Perguntas como: Temos uma avaliação eficaz dos riscos a que estamos expostos? De que forma a empresa está agindo preventivamente para evitar situações que impactem os stakeholders? Quais são os planos de contingência? Como a empresa está preparada para atuar em caso de incidentes? Essas e outras perguntas deveriam fazer parte das discussões de conselhos.

Muito mais do que evitar riscos a reputação da empresa, essas perguntas deveriam ser direcionadas pensando na responsabilidade socioambiental da empresa.

No filme Erin Brockovich – Uma mulher de talento, a protagonista, mãe solteira, desempregada e com 3 filhos, inicialmente luta para conseguir emprego. Após um acidente, conhece um advogado que virá a ser, além de seu chefe, seu amigo na luta para responsabilizar a PG&E pelos casos de doenças graves causadas pela contaminação do lençol freático da região. A empresa, além de não ter agido para prevenir a possibilidade de contaminação (as lagoas de deposito dos resíduos do tratamento de água “potável”, não eram devidamente revestidas), mentiu para a população ao afirmar que utilizada Cromo 3 (produto neutro) para o tratamento da água, quando na verdade, utilizava Cromo 6 (produto tóxico).

Se não bastasse essas duas situações, ao saber da contaminação, não resolveu a origem do problema e tentou encobrir o dano causado, comprando as propriedades dos habitantes próximos a empresa. Uma moradora recusou todas as ofertas de compra e a empresa, novamente tentando encobrir, passou a pagar o tratamento de saúde dela.

Como resultado da história, a empresa pagou uma indenização milionária (a maior na história dos EUA até então).

Aqui faço um parêntese para mencionar um fato curioso sobre a forma como eu via o filme até então. A cena final mostra o advogado e amigo da Erin entregando o cheque da comissão dela no caso. Já utilizei essa cena em alguns treinamentos sobre a ESCUTA ATENTA. Não havia me atentado a outras questões até mais importantes no filme. A questão da empatia dela com as pessoas afetadas pela contaminação, a liderança e obstinação além da própria questão ambiental em si.

O caso muito comentado na época, revela como uma empresa não deve tratar as questões socioambientais. Em momento algum a empresa atuou de forma preventiva, pelo contrário, buscou “remediar” a situação mentindo para a população e encobrindo o problema.

Além dos custos financeiros (maior indenização da história Americana), os custos reputacionais também foram enormes.

É necessário entender que, além da função meramente econômica, as empresas também têm função social relevante e que, se tratadas adequadamente, irão impactar positivamente os resultados financeiros da empresa.

Segundo Larry Fink, Chairman e CEO da BlackRock, “Quanto mais a empresa puder demonstrar seu propósito em entregar valor aos seus clientes, seus colaboradores e suas comunidades, melhor será sua capacidade de competir e entregar lucros duradouros, de longo prazo, para os acionistas”.

O Contexto apresentado exige uma nova postura dos Conselhos da Empresas. Exige proatividade pois, a construção de um futuro mais sustentável exige mudanças no nosso jeito de produzir, consumir e viver.

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