Desculpe te dizer isso assim, mas seu maior problema é você
Uma das melhores coisas que já me aconteceram foi descobrir que meu maior problema não são as pessoas, as coisas, as circunstâncias nem as condições da minha vida. O meu maior problema sou eu. São os meus modelos mentais e as minhas estratégias internas que determinam as minhas escolhas, as minhas decisões e a forma como eu ajo ou reajo às pessoas e aos acontecimentos. E a vida é feita de escolhas, não é mesmo? Isso ampliou muitíssimo a minha consciência e mudou a minha vida para sempre porque me permitiu identificar a estrutura, digo, a origem de todos os meus conflitos, angústias e sofrimentos.
Deixar de olhar “o que” ou o “porque” das coisas e passar a observar “como” elas acontecem e se mantêm na nossa vida é condição sine qua non para toda e qualquer mudança. Este é um dos primeiros aprendizados que compartilho com meus alunos porque, infelizmente, isso ninguém nasce sabendo.
Depois de muito tempo identificando e resolvendo minhas questões pessoais, ampliei a minha observação para questões mais complexas relacionadas aos meus contextos de interação, a começar pelos meus relacionamentos pessoais como família e amigos, até chegar à minha sociedade e ao meu país. Como o Brasil, com tantos recursos naturais, continua sendo um país subdesenvolvido? Como o Brasil continua não conseguindo resolver os seus problemas mais urgentes? Como o Brasil consegue fazer dar errado as coisas que, naturalmente, são feitas para dar certo? Como o Brasil repete os mesmos erros, há séculos, e não aprende com isso?
Há quem diga que “é porque somos um país novo, uma nação nova historicamente”. Mas há um momento na vida da gente em que as desculpas não convencem, não fazem mais sentido e a gente tem que buscar as justificativas, os motivos reais e enfrentar o problema de frente. Ora, os Estados Unidos também são um país novo, uma nação nova historicamente e a maior potência do mundo. Tudo ao mesmo tempo agora. Apesar de não terem os recursos que temos aqui, lá as coisas funcionam, lá as pessoas funcionam. Então, qual é o verdadeiro problema do Brasil?
O problema do Brasil é o brasileiro. O Brasil é um país subdesenvolvido, porque somos um povo subdesenvolvido. E o que faz do brasileiro um povo subdesenvolvido é sua lógica distorcida, suas crenças e valores destrutivos, seus princípios degradados, sua visão empobrecida de mundo. E isso vem de longe, de muito longe, vem da nossa origem. Claro que é possível mudar! Mas, para mudar é preciso identificar o problema. O princípio da cura é o reconhecimento da doença.
Assim como eu, talvez você se considere uma exceção neste processo, mas o fato de sofrermos as consequências do pensamento e dos comportamentos dos outros confirma o princípio da coletividade, do pensamento sistêmico, que a maioria de nós ignora. É, somos um povo que não pensa coletivamente, que não tem espírito de grupo. Aqui, vale o ditado “Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. E uma nação se faz de regras, não de exceções.
Agora que o Brasil está afundado em denúncias de corrupção e perdeu a credibilidade na comunidade internacional; agora que o Brasil está prestes a ser o único país do mundo a ter dois Presidentes da República, eleitos por voto popular, impedidos de cumprir seus mandatos; agora que o Brasil assistiu a duas votações de impeachment do seu Presidente da República em menos de vinte e quatro anos; agora que o Brasil se envergonha da atuação vexatória dos seus parlamentares; agora que o Brasil não ganha nem no futebol; agora que o Brasil, mais do que nunca, grita por mudanças talvez seja um bom momento para nos perguntarmos: Como nós estamos criando e mantendo essa ordem de coisas? Qual é o nosso verdadeiro problema?
Mas, se você ainda está às voltas com suas questões pessoais, se você não resolveu suas próprias angústias e conflitos, talvez você deva se perguntar primeiro: Como eu estou criando e mantendo essa ordem de coisas na minha vida? Qual é o meu verdadeiro problema? Ou você prefere as desculpas? Lembre-se: para mudar é preciso identificar.
Desculpe te dizer isso assim, mas, assim como é comigo, seu maior problema é você. Se ampliarmos o nível da discussão, nosso maior problema somos nós. A boa notícia é que a solução também é você, somos nós.
A propósito, se você quer compreender um pouco da nossa condição como povo e nação, sugiro a leitura dos livros “A cabeça do brasileiro”, de Alberto Carlos Almeida e a trilogia “1808, 1822 e 1889”, de Laurentino Gomes. Agora, se você quer compreender e, sobretudo, resolver a sua condição pessoal, eu sugiro três alternativas: autoconhecimento, autoconhecimento e... Autoconhecimento.
Gostou do artigo? Deixe seu comentário e não esqueça de compartilhar o conteúdo com sua rede. Até a próxima leitura!