Sua empresa está interessada em resolver um problema público?

Existem inúmeras empresas que sobrevivem de problemas públicos. Essas empresas necessitam que o problema continue existindo para que elas justifiquem seus contratos e investimentos. Seria do interesse dessas empresas a promoção de soluções definitivas?

Se formos buscar na literatura acadêmica o que é considerado um problema público, encontramos a definição do professor Leonardo Secchi (2010).:

[...] problema público é a diferença entre a situação atual e uma situação ideal possível para a realidade pública.

Essa interpretação pode ser bem subjetiva, tendo em vista que há uma necessidade intrínseca de reconhecimento por parte de atores do que é considerado um problema e o que é uma situação ideal, ainda, do que é considerado público ou privado.

Todavia, enxergamos no cotidiano problemas clássicos e que são fáceis de serem identificados como problema público, por exemplo, oferta de serviços médicos especializados, saneamento básico, vagas em creches etc.

Um problema público, na maioria das vezes, é composto de diversas camadas que, somadas, formam sua estrutura danosa e necessitam de ações sistemáticas para sua resolução. Não basta contratar mais professores se não temos sala de aula para comportar as turmas e materiais didáticos para os estudos. Entender essa estrutura garante, também, a aderência da tua solução ou produto à política pública que irá atuar sobre esse problema.

Vou dar um exemplo prático com base em uma adaptação do framework de Ishikawa (causa e efeito), a famosa espinha de peixe:

O diagrama é usado para encontrar, organizar, classificar, documentar e exibir graficamente as causas de um determinado problema, agrupados por categorias, que facilitam o brainstorming de ideias e análise da ocorrência. 

No contexto do setor público, essas categorias podem ser somatórias e estarem interligadas quando se trata de problema público [demanda]. Portanto, atuar efetivamente em uma causa desse problema não garante sua resolução completa, mas mostra onde você está localizado nesta estrutura.

Neste sentido, as empresas que buscam construir pontes entre os demais fornecedores e agentes públicos de maneira intersetorial, provam-se motivadas pela implementação de soluções e estão pautadas em resultados efetivos, como a melhoria da saúde pública. Um propósito real.

Isso quer dizer que após a resolução do problema a empresa deixará de prestar serviços ao referido órgão?

Não necessariamente.

Os problemas públicos são abundantes e entender essa dinâmica traz consigo vantagens estratégicas interessantes. Solucionar o problema em uma determinada prefeitura, por exemplo, garante a “boa propaganda” das soluções implementadas e pode gerar novos contratos em novos órgãos públicos.

Essa confiança só se constrói quando o propósito da empresa conversa com o propósito da administração pública. E a pergunta que eu deixo a vocês é:

Sua empresa tem promovido soluções efetivas para o setor público ou ela sobrevive de problemas?

Referência: SECCHI, Leonardo. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análises e casos práticos. 1ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010.