Doenças tropicais negligenciadas: não podemos fugir do compromisso de enfrentá-las
As doenças tropicais negligenciadas (DTNs) representam um desafio para os sistemas de saúde a nível global – e aproveito este espaço para explicar alguns motivos pelos quais isso ocorre, principalmente em regiões de menor renda.
Causadas por agentes infecciosos ou parasitas, as enfermidades assim chamadas são prevalentes em populações vulneráveis, como de algumas localidades na África, Ásia e América Latina. A grande questão é que, apesar de representarem 11,4% da carga global de doenças e ameaçarem mais de 1,7 bilhão de pessoas que vivem nessas regiões, o financiamento global para pesquisa básica e desenvolvimento de medicamentos tem caído progressivamente. Segundo dados do relatório G-Finder, entre 2021 e 2022, o financiamento para cinetoplastias (doença de Chagas, leishmaniose, tripanossomíase humana africana) diminuiu 11%, chegando ao nível mais baixo de recursos desde 2007. O desequilíbrio leva a altos índices de mortalidade, resultantes do agravamento de condições do tipo.
O tema também esbarra em outro ponto sensível: a falta de verba. Relatório da Organização Mundial de Saúde divulgado no ano passado mostrou que um maior fluxo de investimentos contra DTNs ajudaria a reverter perdas nas metas estabelecidas para 2030. A OMS sugeriu que houvesse mais financiamento doméstico, prestação de contas e parcerias com o setor público-privado. Entre 2019 e 2020, em razão da pandemia, um terço a menos de pessoas deixaram de ser tratadas contra as doenças tropicais negligenciadas no mundo. Em 2021, o percentual de pacientes diagnosticados que receberam cuidados ficou em apenas 11%.
Conscientização é sempre válida, mas precisamos ir além
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Nas regiões mais pobres – em escala mundial –, estima-se que condições como hanseníase, dengue e esquistossomose causem, juntas, um número de óbitos que varia de 500 mil a 1 milhão, por ano. No Brasil, uma DTN com preocupação crescente é a febre do Mayaro, transmitida por mosquitos e com quadro semelhante aos de dengue e Chikungunya. No Brasil, a detecção foi historicamente registrada em estados da região Norte, como Acre, Pará e Amazonas. A dificuldade de diagnóstico é justamente causada pela semelhança dos sintomas com aqueles causados por outros vírus. O Ministério da Saúde classifica a febre do Mayaro como uma zoonose silvestre, contra a qual ainda não há vacina.
Para promover conscientização diante das DTNs, a Organização Pan-Americana da Saúde e a OMS instituíram o Dia Mundial de Enfrentamento às Doenças Tropicais Negligenciadas (31 de janeiro). A data foi atrelada a uma campanha intitulada "Participar, Agir e Eliminar". Entretanto, o combate efetivo a tais enfermidades depende de uma abordagem integrada que considere os determinantes sociais, econômicos e ambientais, alocando recursos adequados para pesquisa, prevenção e tratamento.
Penso, ainda, que o enfrentamento eficaz das DTNs deve envolver a capacitação de profissionais de saúde e o aprimoramento de tecnologias para diagnóstico. A meta 3.3 do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 da ONU prevê, até 2030, “acabar com as epidemias de AIDS, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas, e combater a hepatite, doenças transmitidas pela água, e outras doenças transmissíveis”. Portanto, assim como para outros enfrentamentos que estão em nosso horizonte – e falo como Liderança com ImPacto, porta-voz do ODS 3 –, a garantia de uma vida mais saudável para todos envolve uma abordagem coordenada e integrada, com esforços conjuntos de governos, organizações de saúde e da sociedade.
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Tec enfermagem na Hospital Santa Marcelina OSS
3 mDicas úteis
Médico Patologista Clínico na HEMOES
3 m👍👍👏👏❤️❤️
Diretor Executivo | Diretor Hospitalar | Gestão Estratégia | Transformação Corporativa | Relações Institucionais
3 mExcelente apontamento Sidney Klajner, principalmente ao indicar que não são raras as omissões de desenvolvimento terapêutico para eventos que afetam grandes contingentes populacionais. O tema convida a pensarmos a inovação, a democratização do acesso ao cuidado, e principalmente, como formadores de opinião, a inclusão do tema nas agendas de políticas de desenvolvimento, e no portfólio de pesquisa e desenvolvimento de universidades e da indústria. Parabéns!